São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

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Banqueiro que "adora crise" compra o Dresdner no Brasil

Avaliado em US$ 100 mi, negócio marca saída de banco alemão após 50 anos no país

Fernandes, ex-Pactual, diz que, com a crise, "tem um monte de serviço a fazer, e ninguém com criatividade ou liberdade para executar"

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Afastado há dez anos do mercado financeiro, Luiz Cezar Fernandes, fundador dos bancos Pactual e Garantia, volta agora com a compra das operações brasileiras do alemão Dresdner, que deixa o Brasil após 50 anos. Com prejuízo de R$ 14,8 milhões em 2008, o banco que já liderou a área de investimentos foi reduzido à metade no ano passado -o total de ativos caiu de R$ 2,349 bilhões para R$ 1,88 bilhão.
Fernandes pretende cuidar da recuperação de empresas em dificuldades -como fez com Mesbla e Lacta- e lançar produtos novos para captar recursos. "Adoro crise", disse. Até então, cuidava de ovelhas em sua fazenda em Petrópolis (região serrana do Rio). "Pastoreando ovelha, você enxerga melhor." Fernandes volta associado a Eugenio Holanda, dono da empresa Tetto, que faz gestão de um fundo de R$ 5 bilhões de títulos imobiliários. O banqueiro não divulgou o valor do negócio, mas o mercado estima em torno de US$ 100 milhões.

 

FOLHA - Qual a sua motivação para voltar num momento desses?
LUIZ CEZAR FERNANDES
- Eu adoro crise e não podia ficar longe dessa. Em 1971 [quando entrou no Garantia], a Bolsa caiu muito. Em 1982, quando entrei no Pactual, veio o "default" [moratória] da dívida externa. Crises criam oportunidades ímpares. Além disso, os bancos brasileiros de investimento estão todos ligados a estrangeiros com problemas enormes lá fora. Os dois brasileiros que podiam fazer alguma coisa -Itaú BBA e Bradesco BBI- levaram tiro. Um [BBA] com o problema de derivativo da Aracruz, e outro, com a Santa Elisa [que renegocia dívida]. Não sobrou ninguém, e está sobrando espaço.

FOLHA - É verdade que vocês pagaram US$ 100 milhões?
FERNANDES
- Não posso falar.

FOLHA - O balanço do Dresdner mostra que estava bastante fraco. Como espera reverter o quadro?
FERNANDES
- Vamos mudar de atividade. Vamos sair de um banco quase comercial para fazer um banco de investimento puro-sangue. Vamos repetir o que foi o Pactual e o Garantia.

FOLHA - Há alguma área que os demais bancos não estão explorando?
FERNANDES
- Por exemplo, a reestruturação do setor sucroalcooleiro. É um crime o que estão fazendo com o setor. Fármacos também. Tem um monte de serviço para fazer, e ninguém com criatividade -ou liberdade- para executar. O [UBS] Pactual e o Crédit Suisse têm capacidade, mas a matriz não deixa fazer.

FOLHA - Que tipo de produto vocês poderiam explorar?
FERNANDES
- É muito simples fazer uma LTN [dívida prefixada] cotada em Bolsa com indexação em petróleo. Como a Petrobras tem reserva, para ela [a variação do petróleo] é neutra. Ela faz o financiamento que quer, e o investidor fica indexado em dólar, petróleo e dívida.

FOLHA - O Dresdner sairá do Brasil? FERNANDES - Exatamente. Está saindo de todos os países. Eles foram vendidos para o Commerzbank, que pretende centralizar toda a operação na Alemanha. E aí surgiu a oportunidade para comprá-los no Brasil.

FOLHA - Qual o futuro da equipe?
FERNANDES
- O Dresdner tem 70 pessoas. Vou aproveitar a maioria, até porque gosto de valorizar a prata da casa. Mas para esses novos produtos, precisamos treinar gente. Não vou trazer ninguém [de outros bancos], gosto de formar equipe.


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