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Banqueiro que "adora crise" compra o Dresdner no Brasil
Avaliado em US$ 100 mi, negócio marca saída de banco alemão após 50 anos no país
Fernandes, ex-Pactual, diz
que, com a crise, "tem um
monte de serviço a fazer,
e ninguém com criatividade
ou liberdade para executar"
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Afastado há dez anos do mercado financeiro, Luiz Cezar
Fernandes, fundador dos bancos Pactual e Garantia, volta
agora com a compra das operações brasileiras do alemão
Dresdner, que deixa o Brasil
após 50 anos. Com prejuízo de
R$ 14,8 milhões em 2008, o
banco que já liderou a área de
investimentos foi reduzido à
metade no ano passado -o total de ativos caiu de R$ 2,349
bilhões para R$ 1,88 bilhão.
Fernandes pretende cuidar
da recuperação de empresas
em dificuldades -como fez
com Mesbla e Lacta- e lançar
produtos novos para captar recursos. "Adoro crise", disse. Até
então, cuidava de ovelhas em
sua fazenda em Petrópolis (região serrana do Rio). "Pastoreando ovelha, você enxerga
melhor." Fernandes volta associado a Eugenio Holanda, dono
da empresa Tetto, que faz gestão de um fundo de R$ 5 bilhões
de títulos imobiliários. O banqueiro não divulgou o valor do
negócio, mas o mercado estima
em torno de US$ 100 milhões.
FOLHA - Qual a sua motivação para
voltar num momento desses?
LUIZ CEZAR FERNANDES - Eu adoro
crise e não podia ficar longe
dessa. Em 1971 [quando entrou
no Garantia], a Bolsa caiu muito. Em 1982, quando entrei no
Pactual, veio o "default" [moratória] da dívida externa. Crises
criam oportunidades ímpares.
Além disso, os bancos brasileiros de investimento estão todos ligados a estrangeiros com
problemas enormes lá fora. Os
dois brasileiros que podiam fazer alguma coisa -Itaú BBA e
Bradesco BBI- levaram tiro.
Um [BBA] com o problema de
derivativo da Aracruz, e outro,
com a Santa Elisa [que renegocia dívida]. Não sobrou ninguém, e está sobrando espaço.
FOLHA - É verdade que vocês pagaram US$ 100 milhões?
FERNANDES - Não posso falar.
FOLHA - O balanço do Dresdner
mostra que estava bastante fraco.
Como espera reverter o quadro?
FERNANDES - Vamos mudar de
atividade. Vamos sair de um
banco quase comercial para fazer um banco de investimento
puro-sangue. Vamos repetir o
que foi o Pactual e o Garantia.
FOLHA - Há alguma área que os demais bancos não estão explorando?
FERNANDES - Por exemplo, a
reestruturação do setor sucroalcooleiro. É um crime o
que estão fazendo com o setor.
Fármacos também. Tem um
monte de serviço para fazer, e
ninguém com criatividade -ou
liberdade- para executar. O
[UBS] Pactual e o Crédit Suisse
têm capacidade, mas a matriz
não deixa fazer.
FOLHA - Que tipo de produto vocês
poderiam explorar?
FERNANDES - É muito simples
fazer uma LTN [dívida prefixada] cotada em Bolsa com indexação em petróleo. Como a Petrobras tem reserva, para ela [a
variação do petróleo] é neutra.
Ela faz o financiamento que
quer, e o investidor fica indexado em dólar, petróleo e dívida.
FOLHA - O Dresdner sairá do Brasil?
FERNANDES - Exatamente. Está
saindo de todos os países. Eles
foram vendidos para o Commerzbank, que pretende centralizar toda a operação na Alemanha. E aí surgiu a oportunidade para comprá-los no Brasil.
FOLHA - Qual o futuro da equipe?
FERNANDES - O Dresdner tem 70
pessoas. Vou aproveitar a
maioria, até porque gosto de
valorizar a prata da casa. Mas
para esses novos produtos, precisamos treinar gente. Não vou
trazer ninguém [de outros bancos], gosto de formar equipe.
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