São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
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VINICIUS TORRES FREIRE Crédito: despiorou, mas encrencou
POSTOS EM uma bolha de plástico, como se imunes às pestilências da crise, alguns números sobre o crédito no Brasil pareceriam brilhantes. O total de dinheiro emprestado ("saldo de crédito") como proporção da economia (do PIB) subiu de novo em janeiro passado, para 41,3% do PIB. Em janeiro do ano passado, era 34,2% do PIB. Esse mesmo estoque de dinheiro emprestado cresceu 30% de janeiro de 2008 para janeiro deste ano. Como quase nada de honesto e duradouro cresce sem parar a 30% ao ano, poderíamos até dizer que certos males vêm para bem, como o fazem alguns economistas de bancos. Em vez de inflarmos nossa bolha financeira até um desastre ou a desinflarmos à base de juros cavalares, dir-se-ia que vamos nos valer algo inadvertidamente da oportunidade que a crise nos ofereceu. Mas, para tirar bom proveito do limão e fazer a limonada, é preciso também talhar os juros básicos, a Selic. Em relação aos horrores do final de 2008, o crédito despiorou. Mas, na média do trimestre encerrado em janeiro, comparada ao mesmo período do ano passado, a concessão de crédito (empréstimos novos) estagnou. No caso dos empréstimos para consumidores (pessoas físicas), o crédito novo não apenas caiu de novo como sua composição continua muito ruim. Nessa comparação, o crédito para a compra de veículos cai ainda 52% (caía a 57% em dezembro). Cresce apenas a concessão de crédito ruim e caro, como o do cheque especial (quase 10%) e o do cartão de crédito (35%). No mês passado, 66,5% do dinheiro novo emprestado para pessoas físicas era no cartão de crédito e no cheque especial (ante 56,5% em janeiro de 2008). No caso das empresas, o crescimento do crédito novo caiu quase a zero (comparado com o trimestre encerrado em janeiro de 2008). A inadimplência da pessoa física passou de 7,1% em janeiro passado para 8,3% agora, um aumento de fato ruim. Mas tal número ainda tende a piorar, dadas a redução do crédito para empresas, para o consumo de bens duráveis, a alta do desemprego e as baixas de salário. Dizia-se ontem que houve uma "melhora" no custo do crédito, com reduções do "spread" (a diferença entre o que os bancos gastam para captar dinheiro e o que cobram ao emprestar). Mas no caso da pessoa física o "spread" é ainda cinco pontos percentuais maior que no setembro da explosão da crise, enquanto o custo do dinheiro para os bancos caiu três pontos desde então. O estoque de crédito cresceu pouco e abaixo do previsto por economistas de bancos, o que é engraçado, pois bancos é que concedem crédito. O tombo só não foi maior porque os bancos públicos seguram a onda. O estoque de empréstimos dos estatais cresceu 39% em um ano; o dos privados subiu 25%. Em janeiro de 2008, a variação era de, respectivamente, 18% e 34%, quase o inverso. Os maiores bancos dizem agora que o estoque de crédito deve crescer menos de 10% no ano e que a inadimplência da pessoa física pode ir a 10% por volta de abril. Com "spreads" estacionados nas alturas, inflação caindo, desemprego em alta e crédito novo estagnado, é preciso aproveitar a carona da crise e talhar os juros básicos, a Selic, e ao menos poupar algum dinheiro dos impostos. vinit@uol.com.br Texto Anterior: Banqueiro que "adora crise" compra o Dresdner no Brasil Próximo Texto: Conselho se diz "chocado" com críticas da Nintendo Índice |
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