São Paulo, sábado, 27 de fevereiro de 2010

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Skaf prepara saída da Fiesp e volta a criticar bancos

Patrícia Araujo - 24.fev.10/Folha Imagem
Presidente da Fiesp diz que banca privada deve seguir BB e CEF

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, chamou de "absurdo" o rumor de que o Banco Central poderá elevar a taxa básica de juros na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Essa pressão pode crescer com o fechamento do IPCA deste mês, cuja prévia do IPCA-15 registrou aceleração.
Skaf, cuja licença para a disputar ao governo de São Paulo já começa a ser redigida, avalia que uma elevação dos juros neste momento atingirá em cheio os planos de investimento da indústria. Ele voltou a criticar os bancos privados. Disse que a banca privada precisa imitar os bancos oficiais e questiona: "Se não existe crédito, para que existe então uma casa bancária?".

 

FOLHA - Prévia do IPCA deste mês mostrou aceleração da inflação. A indústria teme nova alta de juros?
PAULO SKAF -
Lamentavelmente, alguns acham que a Selic deve voltar a subir. Acho isso totalmente desnecessário. Seria uma irresponsabilidade voltar a aumentar a taxa de juros por três razões. A dívida [mobiliária] bruta do governo federal, que é de R$ 1,9 trilhão, é, em grande parte, "selicada". A alta de 1% na Selic eleva em R$ 19 bilhões o gasto público com juros. A Selic mais alta desestimula os investimentos. Além disso, cria uma situação de comodismo, ou seja, o interesse em aplicar em Letras do Tesouro em vez de expandir o crédito. Há também o problema da valorização do câmbio, gerada pela alta dos juros. Só vejo pontos negativos com juros altos. É para esfriar a demanda? Isso é nocivo ao país. Temos capacidade produtiva e temos investimento. O que vai acontecer com os investimentos se houver risco de queda de demanda?

FOLHA - O sr. vê risco de pressão inflacionária por demanda?
SKAF -
Nenhum. A indústria está com uma produção 6,2% menor do que estava em setembro de 2008, o último mês antes da crise. No entanto, a indústria investiu em 2009, aumentando em 10% a capacidade produtiva. E está com investimento para 2010, com estimativa de crescimento de 15% da sua capacidade. Ou seja, quem defende a tese de que a taxa Selic tem de subir porque pode haver pressão inflacionária ou não sabe o que está acontecendo ou tem algum outro interesse que não o interesse do país. A prévia do IPCA deste mês foi influenciada por questões sazonais; não tem nada com a demanda.

FOLHA - A oferta de crédito tem atendido a indústria?
SKAF -
Houve crescimento significativo na oferta de crédito, e aí o mérito é do governo federal. Em 2009, em meio à crise, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal deram um exemplo, aumentando o crédito e reduzindo os juros. O problema são os bancos privados, que ainda cobram "spreads" elevadíssimos.

FOLHA - Mas por que o governo não consegue convencer os bancos privados a fazer o mesmo?
SKAF -
Não se trata de convencimento, mas de concorrência. O que os bancos privados precisam fazer é o que o BB e a CEF fizeram: ofertaram mais crédito, baixaram os juros e tiveram bons resultados em seus balanços. Os bancos públicos mostraram que o sistema financeiro tem a obrigação de fomentar a economia. Não é favor dar crédito. Se não existe crédito, para que existe então uma casa bancária?

FOLHA - Após sete anos, que avaliação o sr. faz do governo Lula?
SKAF -
Muito coisa avançou, mas acho que faltaram as reformas estruturais. As reformas tributária, trabalhista e política acabaram não acontecendo. Não acho que por falta de vontade do presidente Lula. Por diversas vezes, houve iniciativa do Executivo em mandar propostas de reforma, mas acredito que o momento para promover reformas é o início do governo. Quando o tempo vai passando, a situação fica mais complicada.

FOLHA - O sr. ainda acredita nas reformas?
SKAF -
O momento para as reformas tem de ser o primeiro semestre de 2011, de preferência primeiro trimestre de 2011. Quando o novo governo for eleito e tomar posse, terá de fazer as reformas. Essas reformas já foram discutidas em demasia, é preciso fazê-las agora.

FOLHA - O sr. acha que o presidente Lula fará seu sucessor?
SKAF -
Acho que o crescimento econômico favorece o governo que está aí. O momento atual é diferente. O presidente Lula teve um desempenho muito bom, é reconhecido pela população e a economia em 2010 está bem, deve atingir crescimento de 6%. A somatória disso cria um ambiente favorável [para a candidatura Dilma]. Não quero personalizar a questão, mas isso é histórico.


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