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entrevista
"País precisa de uma geração para mudar"
DA ENVIADA ESPECIAL A ATENAS
Sem reformas profundas e
longas, a Grécia não vai reerguer sua economia, avariada
sobretudo por erros essencialmente gregos, diz Spyros
Kouvelis no amplo gabinete
no centro de Atenas perto do
qual logo passariam grevistas protestando contra o arrocho proposto pelo governo
George Papandreou.
Kouvelis não é opositor,
mas seu homem-forte para a
economia no Ministério das
Relações Exteriores (o ministro é o próprio premiê).
Leia trechos de sua entrevista à Folha.
(LC)
FOLHA - Como resgatar a credibilidade perdida?
SPYROS KOUVELIS - A primeira
coisa é transformar o órgão
estatístico aqui [que maquiou a dívida grega] em
agência independente. A segunda, que o premiê já faz, é
admitir que esse é, sim, um
problema grego, gerado pela
má administração do governo anterior. Por fim, propor
um programa de estabilidade econômica e se ater a ele.
O governo tem conseguido
manter a agenda.
FOLHA - Mas é o começo do processo, e já há pressão na rua.
KOUVELIS - Claro, mas, quando você tem de implementar
um programa de estabilidade, todos passam por dificuldades. A classe média vai sofrer, o poder de compra, cair.
FOLHA - A economia, parar?
KOUVELIS - É uma preocupação que tentamos enfrentar
de dois modos. Um, não dá
para se nortear pela necessidade de compra -na Grécia,
o gasto público move a economia e, se você tem de cortá-lo, o dinheiro para o setor
privado e os indivíduos diminui. Mas, dois, não dá para
deixar o mercado doméstico
encolher, então estamos tentando aumentar investimentos para trazer liquidez, e é
melhor liquidez para investir
do que para gastar. A Grécia
parou de produzir qualquer
coisa de valor, só consome.
FOLHA - Como melhorar a competitividade?
KOUVELIS - Qualidade. Estou
tentando promover produtos e serviços em que a Grécia faz diferença, como o turismo. Não deveríamos competir no turismo de massa,
mais barato em outros países, precisamos ter serviços e
estruturas melhores. Os setores tradicionais também
são importantes, sobretudo a
agricultura. Mas não faz sentido a Grécia produzir tanto
algodão, mais barato em outros países. Temos de focar
em frutas e vegetais, ganhar
espaço no mercado árabe e
no russo. O terceiro passo é a
indústria de alta tecnologia.
FOLHA - A crise de credibilidade
não vai solapar os planos?
KOUVELIS - Ela não ajuda,
mas é secundária nesse aspecto, pois não estamos em
um momento de grandes
acordos entre países, e sim
entre empresas. Ela afeta a
capacidade de contrair empréstimos do país e pesa no
curto e médio prazo. Aqui falo do longo prazo.
FOLHA - Pelo que ouvi aqui, a
Grécia não precisa só de ajustes,
mas mudar a mentalidade.
KOUVELIS - Verdade. É importante convencer os cidadãos de que eles têm um papel e que, se pedirem recibo,
a economia formal cresce. É
preciso educar a nova geração de agricultores para não
depender de subsídio. Na política, acabar com a troca de
favores...
FOLHA - Em quatro anos?
KOUVELIS - O que dá é para
montar a base e mostrar o caminho. Para mudar, acho
que vai levar uma geração.
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