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Após dívida, gregos temem falta de competitividade
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A ATENAS
Se saltar sobre o penhasco
em que está sem "quebrar" e se
conseguir restabelecer a confiança do mercado e de seus pares europeus, a Grécia terá de
lidar com problema mais complexo do que o deficit orçamentário para evitar abismos futuros, alertam economistas, sindicalistas e membros do governo: falta de competitividade.
A avaliação em Atenas é que a
atual situação -em 2009 deficit de 12,7% e dívida que supera
o PIB- chegou por duas vias.
A primeira é a irresponsabilidade fiscal de sucessivos governos, cantada em sermões da
União Europeia, jornais e mercado. A outra, à espreita, é a forma como se organizou a economia do país e como ela acabou
engolida pelos pares no euro.
"Alguns países têm problemas de dívida, outros, de deficit, e outros ainda de competitividade. O drama nessa história
é que a Grécia tem os três", diz
Giorgos Glynos, que passou 25
anos na Comissão Europeia e
hoje está na Fundação Helênica, "think tank" especializado
em política europeia.
"Sempre tivemos um problema de competitividade. Não
piorou logo que nos unimos ao
euro, mas piorou bastante nos
últimos anos, pois não adotamos as estratégias econômicas
corretas", ecoa Zoe Lanara, secretária de Relações Internacionais do GSEE, o principal
sindicato do país. "Os governos
não investiram em qualificação
e renovação."
Nem em seu próprio mercado os gregos têm conseguido se
impor, e é comum ouvir reclamações de que geladeiras e armários (para não dizer as garagens) estão lotados de produtos
de outras procedências. Embora a população viva com um salário médio de 1.100, as mercadorias têm preços mais parecidos com os de Paris do que
com os de Madri (onde o salário médio é semelhante).
No comércio exterior a situação só piora. A economia depende essencialmente do turismo e da agricultura, e nesse último campo, nem o azeite,
principal produto do país, consegue sobressair. Com pouco
valor agregado, acaba superado
também em volume pela produção italiana e a espanhola
-que, aliás, os gregos afirmam
vir, em parte, de suas oliveiras.
Para o governo atual, houve
um erro na estratégia econômica e é preciso abandonar produções tradicionais, como o algodão, para investir em produtos de maior valor agregado.
Outra saída é sofisticar sua
produção. Mas ambos dependem da reeducação de produtores e trabalhadores. E de investimentos improváveis em
um momento de incertezas.
Pior, a saída imediata em situações como essa costuma ser
a desvalorização. Mas, pertencendo à zona do euro, a Grécia
não pode depreciar sua moeda.
"Se a falta de competitividade não pode ser compensada
com desvalorização, você tem
de arrumar outras formas de
compensar e tornar todo o país
mais barato", diz Glynos. "Um
caminho para isso é cortar salários, o que já estamos fazendo. Outros jeitos, mais significativos, são investir em recursos humanos e regular melhor
os mercados", diz. "Mas são todas coisas politicamente muito
mais difíceis de implementar."
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