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INTEGRAÇÃO
Negociadores resgatam disposição para dialogar e buscar avanço
OMC dá 1º passo na questão agrícola
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM MADRI
Após cinco dias de intensas negociações sobre agricultura, que
começavam no café da manhã e
só terminavam no jantar, os 146
países-membros da OMC (Organização Mundial do Comércio)
podiam ontem transmitir ao menos um pequeno passo adiante.
"Houve uma bem-vinda mudança na direção de um ouvir o
outro, mas a fase de resolver problemas ainda está por vir", resumiu Tim Groser, embaixador da
Nova Zelândia e novo chefe da
negociação agrícola.
Como se supõe que ouvir seja a
mais elementar obrigação de
qualquer negociador, onde é que
está o progresso? Simples: até a
reunião desta semana, cada país
ou bloco de países se limitava a
reafirmar suas posições originais,
sem ouvir o que diziam os demais. Como as posições originais
estiveram na origem do monumental fiasco que foi a Conferência Ministerial da OMC realizada
em setembro em Cancún, de fato
há algum tímido avanço, se estiver correta a avaliação de Groser.
Luiz Felipe Seixas Côrrea, o embaixador do Brasil em Genebra,
QG da OMC, concorda com Groser: "Recuperamos o diálogo em
um ambiente positivo". Seixas
Côrrea é o primeiro a admitir que
o ambiente positivo não resolve o
problema, mas emenda: "Não resolve o problema, é verdade, mas,
sem ele, é impossível resolvê-lo".
O que abriu caminho para um
diálogo mais produtivo foi o que o
brasileiro chama de "sinais" positivos emitidos pelas duas principais forças comerciais do planeta,
os EUA e a União Européia.
Já ao chegar a Genebra, na segunda, o austríaco Franz Fischler,
comissário europeu para Agricultura, disse que a UE estava preparada para discutir a eliminação
dos subsídios à exportação de todos os produtos.
Fischler lembrou que, já em
2003, a UE havia sugerido que os
países em desenvolvimento fizessem a lista dos produtos cujos
subsídios deveriam ser eliminados. Agora, o comissário deu um
passo adiante: "Se disserem que
querem todos os produtos na lista, então teremos que negociar
também essa possibilidade".
Mas os europeus, como sempre,
cobraram "paralelismo", ou seja,
que os Estados Unidos também
eliminem seus programas de
apoio à exportação, que embutem
subsídios. O brasileiro Seixas Côrrea viu sinais positivos nessa direção também de parte dos norte-americanos.
Agora, a OMC inicia corrida
contra o relógio para tentar chegar a uma moldura negociadora
até junho. Depois, com a campanha eleitoral norte-americana
correndo solta e a iminência da
troca dos comissários europeus, a
negociação ficará paralisada.
"Temos uma janela de oportunidade daqui até agosto. Se não a
aproveitarmos, depois será bem
mais difícil", diz o negociador
agrícola dos EUA, Allen Johnson.
Mesmo que a janela seja bem
aproveitada, ela produzirá apenas
um marco básico, sem números
de redução de barreiras para produtos agrícolas, que ficaria para
uma segunda etapa.
Por isso mesmo, já não se trabalha, na OMC, com a hipótese de a
Rodada Doha, lançada em 2001,
termine no início de 2005, conforme o cronograma original.
A próxima reunião sobre agricultura será entre 20 e 23 de abril.
Mas, fora agricultura, ainda falta
atacar outros pontos complicados. Na segunda-feira, inicia-se
uma nova maratona, agora sobre
o comércio de bens não-agrícolas.
Faltam também discutir serviços e os chamados temas de Cingapura (entre eles, investimentos
e compras governamentais), o
item que foi a gota que levou Cancún ao colapso.
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