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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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LIGAÇÕES PERIGOSAS

Força, que está na oposição, e ala radical da CUT lideram reivindicações; exportadores sofrem pressão maior

Economia e disputa política detonam greve

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

As greves e campanhas salariais de emergência deflagradas nos últimos dias estão acontecendo num cenário de preços em alta, renda em baixa e desemprego crescente. Ao mesmo tempo, ocorrem no primeiro semestre de governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ex-líder sindical que, no poder, abraçou a ortodoxia econômica.
A confluência desses fatores faz com que especialistas divirjam sobre os motivos das paralisações, que acontecem no Paraná, lideradas pela Força Sindical, e, no interior de São Paulo, pela CUT (Central Única dos Trabalhadores): alguns acham que os motivos mais fortes são políticos, outros, que são econômicos.
Os que apontam a situação atual da economia como explicação para o movimento grevista afirmam que a inflação e a diminuição da renda real do trabalhador -de 2% em março, segundo o IBGE- motivaram as paralisações.
Outros vêem motivação política não só na greve da CUT, em São José dos Campos, como nas paralisações promovidas pela Força Sindical, no Paraná. Segundo eles, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical, pode candidatar-se a cargos hoje ocupados por petistas e deve beneficiar-se das paralisações sob a Presidência de Lula. O presidente da central foi candidato a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes (PPS) nas últimas eleições presidenciais.
Esses especialistas acreditam também que alguns sindicatos da ala radical da CUT fazem exigências ambiciosas para se diferenciarem do comando nacional da central, historicamente ligado ao governo.
"As divergências dentro da CUT refletem as diferenças existentes dentro do PT: assim como no partido, a central tem sua ala moderada e a radical. Na hora das reivindicações, os radicais, apesar de serem minoria, tendem a exigir benefícios maiores, como reposição ou antecipação salarial. Os sindicatos mais alinhados com o governo tendem a pedir abono", afirmou Antonio Carvalho Neto, diretor do IRT (Instituto de Relações de Trabalho) da PUC-MG.

Estratégia
O professor José Pastore, da FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração), afirma que a movimentação grevista está sendo realizada por sindicalistas de setores que estão exportando mais nos últimos meses por causa da desvalorização do real.
É o caso dos químicos, que são mão-de-obra para agronegócios, setor cuja exportação foi recorde no ano passado: a categoria, ligada à CUT (Central Única dos Trabalhadores), deflagrou campanha salarial de emergência.
"Outro caso é o setor de automóveis, cujas exportações estão crescendo nos últimos meses devido à demanda interna menor. Os sindicalistas sabem quais os setores que estão em melhor situação, e por isso estão realizando paralisações. Isso mostra o amadurecimento do sindicalismo ", afirmou Pastore.
Segundo Carvalho Neto, da PUC-MG, também existe uma disputa entre as centrais sindicais. Há um mês, a Força Sindical tomou a dianteira e realizou em São Paulo a primeira paralisação do novo governo. Pediu antecipação salarial de 10% e conseguiu acordos com empresários. A CUT estaria tentando recuperar espaço perdido.
"Até o governo passado quem estava na dianteira do movimento grevista era a CUT. Neste ano, a Força Sindical agiu primeiro, causando mal-estar na CUT", afirma.


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