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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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Eleição de Lula estimulou racha na CUT, afirma professor da USP

DA REPORTAGEM LOCAL

Os sindicatos estão sendo puxados para as greves pelas bases, que, apesar da ameaça do desemprego crescente, não estão aguentando o impacto da queda de renda e alta da inflação nos últimos meses.
A consideração é do professor Arnaldo Nogueira, professor da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) e especialista em relações do trabalho. Apesar de descartar motivos políticos para as paralisações, ele afirmou que as divergências de reivindicações dentro da CUT (Central Única dos Trabalhadores) estão relacionadas com o novo governo.
"Durante o governo anterior, era mais fácil para a CUT agir de forma unificada pois havia uma oposição comum, que era o governo de Fernando Henrique Cardoso. Agora, no governo Lula, os sindicatos de base estão agindo com mais independência em relação à central sindical", afirmou o professor.
 

Folha - Apesar do desemprego crescente, nos últimos dias estouraram três greves no país. Por que esse movimento está acontecendo neste momento?
Arnaldo Nogueira -
As classes mais baixas e também a classe média estão tendo dificuldade para pagar contas, já que tanto os desempregados quanto os que têm emprego estão vendo sua renda corroída pela inflação. Essa panela de pressão está se manifestando agora. Não acredito que essas greves tenham alguma conotação política, a grande causa é o bolso do trabalhador, que não se mobiliza apenas por palavras de ordem genéricas, se mobiliza também a partir de suas necessidades sociais e econômicas.

Folha - Dentro da CUT existem diferentes setores que pedem abono, reposição ou antecipação salarial. Essa diferença de posições indica que a central pode estar rachando?
Nogueira -
Durante o governo anterior, era mais fácil para a CUT agir de forma unificada pois havia uma oposição comum, que era o governo Fernando Henrique Cardoso. Agora, no governo Lula, não há mais essa oposição comum, e os sindicatos de base estão agindo com mais independência em relação à CUT e até ao pedido de paciência e tolerância do presidente Lula.
Há fraqueza da CUT em unificar políticas e interesses dos trabalhadores. Se houver racha no próximo congresso, será ruim para todos, porque tanto a esquerda quanto a ala mais moderada da central serão enfraquecidas.

Folha - A Força Sindical falou em reposição e conseguiu. Isso mostra uma retomada da força política do Paulo Pereira da Silva, o Paulinho?
Nogueira -
O Paulinho, como liderança sindical, tem interesses políticos. O número de lideranças sindicais que têm ascendido na política é grande. Ele tem interesse político em mostrar uma certa diferenciação em relação às conduções do PT, tanto no governo federal quanto na prefeitura de São Paulo. Como líder sindical, tem credibilidade para disputar cargos políticos, mas sua trajetória é cheia de problemas éticos, políticos, o que pode jogar contra ele no futuro.

Folha - Como o sr. vê as afirmações do presidente Lula, que cobrou que o movimento sindical organize a pauta de negociações, pedindo "menos bravata" por parte dos sindicalistas?
Nogueira -
O presidente quer chamar os sindicatos a assumir um papel mais político dos sindicatos, mas esse é um papel difícil de ser assumido: os sindicatos têm visibilidade política menor do que a trabalhista e social. Mas podem agir corporativamente sem olhar muito para a discussão mais geral, não se pode pedir que eles ajam como partidos políticos. No entanto, Lula está afirmando dessa forma seu papel de presidente, chamando a sociedade para uma maior compreensão do movimento político. (MP)


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