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VINICIUS TORRES FREIRE
Esparadrapo na importação
Proteção a indústria de roupa e calçado é casuísmo; real forte é problema, mas falta política de longo prazo
AINDA CAUSA espécie o aumento do Imposto de Importação
de roupas e sapatos. É sabido
o estrago adicional que o real forte
causa na indústria de bens não-duráveis (roupa, sapato, comida etc.).
Tais indústrias sofrem, de resto,
com o comércio chinês desleal. Trata-se ainda de um estrago especialmente doloroso, pois essas fábricas
empregam muita gente, alimentam
a indústria de máquinas e são dos
poucos empreendimentos que
criam cadeias mais longas e complexas de negócios em lugares mais
atrasados do país. Nos últimos 12
meses, a importação de bens não-duráveis cresceu em torno de 20%
(em quantidade); a exportação parou de crescer. São R$ 23 bilhões em
valor exportado, 16,5% do total das
vendas brasileiras para o exterior.
A primeira das perguntas óbvias a
respeito da medida é: por que apenas roupas e calçados? Tal setor não
é vítima de bala perdida. A indústria
inteira sofre com o tiroteio cambial,
com exceção de grandes empresas,
em geral exportadoras de produtos
básicos e/ou multinacionais que
amortecem a perda de rentabilidade
por meio de ganhos financeiros e
negócios com a matriz (vide gráfico
com dados do setor de bens duráveis, cerca de 5% das exportações).
Segunda questão: a proteção tarifária vai durar até quando? Sob
quais condições? Quando a alíquota
do imposto cair, o que terá sido feito
da indústria? Se não houver ganhos
de produtividade, inovação tecnológica, redução de impostos e, mais
improvável e fora do alcance, mudança no câmbio, o que será do setor
quando e se for novamente exposto
à competição? Falir de chofre?
Terceira: vai haver um programa
geral de aumento de Imposto de Importação? As importações também
ajudam a segurar preços e compensam insuficiências de abastecimento de insumos. O que acontecerá se
houver aumento de preços?
O câmbio é um problema, embora
tenha passado a fase aguda de valorização do real, que se aproxima de zero, enquanto os preços dos produtos
brasileiros continuam subindo a
10%, 11%. Mas tais movimentos são
cíclicos, por mais que se diga "agora
vai ser diferente", como se costuma
dizer durante bolhas e euforias de
preços, por mais que a Ásia tenha alterado o balanço e a balança do comércio, por mais que a economia
brasileira tenha se normalizado. A
presente relação entre preços de exportações brasileiras e moeda nacional forte é a mais excepcional em
mais de 20 anos. O que será quando
a canoa virar? Sim, temos reservas
inéditas em moeda forte, o câmbio é
flutuante. Mas haverá um baque.
O problema maior da alta do Imposto de Importação é seu caráter
de esparadrapo econômico. Não há
plano sério de redução de impostos,
programas de incentivo à renovação
tecnológica, de incentivo a indústrias nascentes, de ponta. Não há política pública na área econômica:
apenas juros e impostos altos.
vinit@uol.com.br
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