São Paulo, sábado, 27 de maio de 2000


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EMPRESAS
Benjamin Steinbruch diz esperar solução amigável, mas impõe como condição a venda da participação da CSN
Impasse na Vale pode ser levado à Justiça

Antônio Gaudério/Folha Imagem
O empresário Benjamin Steinbruch, ontem, na sede da CSN


CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O empresário Benjamin Steinbruch, presidente dos conselhos de administração da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e da Companhia Vale do Rio Doce, disse ontem que a CSN vai sair da Vale, mas afirmou que só deixará a presidência do conselho de administração da mineradora quando for feita a venda da participação da siderúrgica. Ele ameaçou ir à Justiça caso os sócios da CSN na Vale queiram passar por cima do que ele considera ser um direito.
Os sócios da CSN na Valepar, a empresa de participações que controla a Vale do Rio Doce, são a Previ (fundo de pensão dos empregados do Banco do Brasil), a Bradespar (grupo Bradesco), a Sweet River (banco Liberal, representando o Nations Bank/Bank of America), o banco Opportunity e o Investvale (clube de investimento dos empregados da Vale).
Eles querem que Steinbruch, na condição de representante da CSN, deixe a presidência do conselho da Vale agora, em reunião marcada para o próximo dia 31. Caso não haja um acordo na Valepar para ser levado à reunião do conselho da Vale, os sócios da CSN ameaçam fazer a eleição pelo voto individual dos conselheiros. A CSN tem apenas duas cadeiras, de um total de nove.
Steinbruch falou com jornalistas na sede da CSN em Volta Redonda (a 130 km do Rio), durante apresentação da empresa para analistas do mercado de capitais.
Ele disse que há um acordo feito na época da privatização da Vale (maio de 1997) segundo o qual a CSN, que tem 31% da Valepar, ficaria sempre com a presidência do conselho da mineradora por ser o único "sócio empresarial" no grupo de controle da Valepar.
"Nada será feito que fira o acordo de acionistas. Qualquer coisa fora disso levará para uma discussão jurídica que não acredito ser do interesse de ninguém", afirmou. Steinbruch disse que no dia 30 haverá uma reunião prévia da Valepar para chegar ao dia seguinte com um acordo fechado.
Duas reuniões feitas nas últimas semanas com o mesmo objetivo fracassaram. Segundo disse à Folha outro membro do conselho da Vale, a reunião da terça-feira não seria para discutir o impasse. Pelo estatuto da Vale, o impasse sobre a presidência terá que ser resolvido na próxima reunião.
De acordo com Steinbruch, o direito de veto que a CSN tem no conselho da Valepar é o que garante o cumprimento do acordo feito para que a siderúrgica tenha o comando do conselho da Vale.
Além da CSN, a Previ, com 25% de participação, é o único sócio da Valepar com direito de veto.
Steinbruch disse que a CSN perdeu seu interesse estratégico na Vale desde que os fundos de pensão, liderados pela Previ, preferiram se associar ao grupo francês Usinor no controle das siderúrgicas Acesita e CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão) em vez de se associarem à CSN. Isso ocorreu em maio de 1998.
Segundo Steinbruch, a partir daquele momento ficou inviável levar adiante seu projeto de um grande grupo minero-siderúrgico nacional que, "em vez de vender de forma burra minério de ferro a US$ 18 a tonelada, venderia aço a US$ 250 a tonelada".
O empresário disse que, mesmo com o fracasso do seu projeto, ele segue defendendo que o capital estrangeiro não deve entrar de forma majoritária nas empresas de setores nos quais o Brasil pode vir a ser um grande ator no mercado internacional, como o siderúrgico e o de mineração.
A argumentação soou como um sinal de que Steinbruch não aceitará comando estrangeiro na CSN por meio da compra das participações de sócios. O maior interessado é o grupo europeu Arbed.
Da mesma forma que a Vale, Steinbruch disse que a Light, na qual a CSN tem 7% do capital, já não é mais estratégica para a siderúrgica porque a CSN está prestes a se tornar auto-suficiente em energia elétrica. De agora em diante, segundo o empresário, a venda da participação na Light "é uma questão de oportunidade".

Descruzamento
Na origem de toda a discussão sobre a presidência do conselho da Vale está a negociação para se desfazer o nó de participações cruzadas envolvendo a CSN, a Vale e alguns dos seus principais controladores (Previ e Bradesco).
As negociações apontam para a saída da CSN da Vale, a venda pela Vale dos 10,3% que tem no capital da CSN; e as vendas pela Previ e pelo Bradesco das suas participações na CSN. O comprador potencial dessas duas últimas participações seria o grupo Vicunha, de Steinbruch.
O empresário disse ontem que nada está acertado por enquanto e que por isso não se pode falar em financiamento da operação. Um dos pontos mais discutidos em todo o processo é a possibilidade de o estatal BNDES ser um dos financiadores do negócio.
Os sócios de Steinbruch na Vale argumentam que, como a CSN vai sair da mineradora, não faz sentido ela permanecer três anos no comando do conselho.


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