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SIDERURGIA
Separação litigiosa colocou Steinbruch contra o Bradesco e a Previ
Conflito na Vale nasceu de disputa por espaço na CSN
DAVID FRIEDLANDER
DA REPORTAGEM LOCAL
O impasse na escolha do novo
comandante da Vale do Rio Doce
é resultado de uma separação litigiosa que colocou o empresário
Benjamin Steinbruch contra a dupla Bradesco e Previ (fundo de
pensão dos funcionários do Banco do Brasil).
A origem do conflito não está na
Vale, mas numa disputa por espaço dentro da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) -da qual os
três também são sócios.
O argumento de que é preciso
acabar com as participações cruzadas que amarram Vale e CSN,
para que as duas possam crescer,
é uma meia verdade.
Desde que a mineradora foi privatizada, em 1996, todos os sócios
sabiam disso e nunca se mexeram. Inclusive o governo, que ainda é o maior acionista da mineradora.
Na realidade, Bradesco e Previ
sentiam-se mal representados na
CSN e queriam que Steinbruch
lhes desse mais espaço. Quando
confirmaram que a situação não
ia mudar, decidiram empurrar o
empresário para fora da Vale e
deixá-lo sozinho na CSN.
Bradesco e Previ possuem juntos 31,7% da siderúrgica, mas
quem manda na CSN é a Vicunha
de Benjamin Steinbruch, que tem
16,3%.
Isso acontece porque a Vicunha
está na empresa desde sua privatização, em 1993, e é majoritária no
bloco de controle da CSN.
Steinbruch nunca permitiu que
Bradesco e Previ aumentassem
suas participações no bloco de
controle. Segundo representantes
desses dois sócios, o empresário
repetia sempre que eles teriam de
esperar o vencimento do acordo
de acionistas, que ocorreria em
abril do ano passado.
A data chegou, mas o acordo foi
prorrogado automaticamente
por mais três anos.
O motivo foi uma cláusula do
acordo prevendo que, se os controladores atingissem determinadas metas de eficiência, poderiam
continuar no comando. Como os
objetivos foram cumpridos,
Steinbruch permanece no controle e Bradesco e Previ continuam
mandando pouco.
Brigas com a Previ
O problema do empresário, na
realidade, era com a Previ. Até hoje os dois não se entendem no
conselho de administração da Vale e por isso Steinbruch queria a
fundação longe das decisões estratégicas da CSN. Steinbruch até
admitia dar mais poder ao Bradesco, mas o banco preferiu ficar
do lado da Previ, com quem tem
vários negócios.
A reação mais forte por parte da
Previ veio quando a fundação decidiu vender parte de suas ações
numa outra siderúrgica, a Acesita,
há dois anos. Steinbruch tentou
comprar a empresa, mas a Previ
preferiu fechar negócio com os
franceses da Usinor, atitude que o
empresário até hoje não engoliu.
Os dois lados brigaram por vários outros motivos, como a insistência de Steinbruch em não contratar um executivo profissional
para presidir a Vale -atitude que
aborrecia também os outros sócios.
O clima ficou mais pesado a
partir do ano passado, quando
Steinbruch informou seus sócios
sobre a intenção de vender sua
participação na CSN. O empresário precisava do dinheiro para reforçar o caixa da Vicunha, empresa de sua família, que no começo
do ano passado carregava uma dívida de mais de R$ 1 bilhão.
Ao mesmo tempo em que precisava do dinheiro, Steinbruch não
queria se afastar da CSN e, por tabela, da Vale -a CSN é a maior
acionista da mineradora. Conseguiu, então, um acordo perfeito
com o grupo siderúrgico Arbed,
da Bélgica, um dos maiores do
mundo no ramo.
Em vez de comprar as ações de
Steinbruch, a Arbed topou tornar-se sócia da Vicunha. Se a operação tivesse dado certo, o empresário não venderia nada, continuaria no comando da siderúrgica e da mineradora e ainda embolsaria dinheiro para a Vicunha.
Só que, para ter peso na CSN, a
Arbed precisava comprar também a participação do Bradesco.
Pelo bloco, a Arbed aceitou pagar
mais de US$ 1,7 bilhão.
Tudo combinado, a Previ travou o negócio. A CSN é proprietária de uma mina de ferro de grande potencial, chamada Casa de
Pedra, e a Previ temia que nas
mãos da Arbed essa mina passasse a competir com a produção da
Vale. O Bradesco, fechado com a
fundação, recusou a oferta dos
belgas e a operação foi desfeita.
A Casa de Pedra foi, inclusive, o
principal motivo para a participação da Vale do Rio Doce na privatização da CSN. Ainda estatal na
época, a Vale queria vigiar a mina
de perto. Tanto que até hoje a Casa de Pedra fornece sua produção
basicamente para a CSN.
Tentativa de fusão
Em meados de 99, chegou-se a
cogitar a fusão da Vale e da CSN,
sugestão feita pelo Bradesco. A
proposta era transformar a Vale
numa empresa de participações,
que controlaria negócios de mineração, alumínio, papel e celulose e siderurgia. Nesse desenho, a
CSN seria mais uma empresa do
grupo Vale do Rio Doce.
Parecia o caminho ideal para
acabar com a bagunça societária
entre a Vale e a CSN, já que Bradesco, Previ e Steinbruch eram
sócios nas duas companhias. O
problema é que Steinbruch perderia estatura com a fusão.
Enquanto Bradesco e Previ são
acionistas da Vale e da CSN, está
apenas na siderúrgica -a CSN é
que é sócia da Vale. A participação da Vicunha, portanto, ficaria
menor que a dos outros dois sócios.
Para contornar esse obstáculo,
Bradesco e Previ aceitaram dar a
Steinbruch a presidência do conselho de administração da nova
empresa.
Mais: concordaram em apoiar
financeiramente a Vicunha, por
meio de uma operação que não
chegou a ser detalhada.
Antes disso, Steinbruch apresentou uma lista de pedidos, entre
eles carta branca para indicar a diretoria da nova empresa. Isso sepultou a idéia de fusão.
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