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LUÍS NASSIF
A guerra da banda C
Nas próximas semanas
vai pegar fogo a discussão
sobre a banda C da telefonia celular -a nova etapa, que abrirá espaço para empresas que
irão concorrer com as bandas A
e B.
O ponto central de discussão é
acerca da frequência a ser disponibilizada para a nova banda. Não se trata apenas de uma
questão técnica, mas de algo
que poderá mudar o perfil da telefonia celular brasileira.
A tecnologia do celular viveu
três revoluções. A primeira foi a
da tecnologia AMPS, analógica.
A segunda foi a telefonia digital.
A próxima será a tecnologia de
terceira geração, capaz de permitir o acesso direto à Internet e
o tráfego de imagens.
Na definição da tecnologia de
segunda geração, nos Estados
Unidos proliferam os sistemas
fechados, basicamente os
TDMA e CDMA -utilizados
no Brasil. A reação da Europa
foi trabalhar em cima de um padrão aberto, que permitisse às
diversas operadoras estabelecer
compatibilidade entre si e não
ter de pagar royalties. O sistema
foi o GSM, que surgiu no final
dos anos 80.
A fim de criar uma padronização mundial, em 1992 a
União Internacional de Telecomunicações (UIT) decidiu lançar o programa International
Mobile Comunication, destinado a preparar o terreno para
2000. Nessas reuniões decidiu-se
que a banda C da telefonia celular ocuparia a frequência de 1,8
GHz e a telefonia de terceira geração ficasse em 1,9 GHz. Ocorre
que, nos Estados Unidos, a frequência de 1,8 GHz já havia sido
ocupada pela segurança nacional. Assim, o país decidiu jogar
a banda C em 1,9 GHz, ficando
fora da padronização proposta
pela ITU.
Na época, o Brasil decidiu
adotar o padrão americano,
considerado então mais acessível que o europeu. Pesou o fato
de se considerar que o maior intercâmbio turístico e comercial
brasileiro é com os Estados Unidos. Utilizando a mesma tecnologia de lá, os telefones celulares
brasileiros podem ser utilizados
nos EUA e vice-versa.
Nesse ínterim, ocorreram modificações no mundo. A Europa
conseguiu desenvolver um padrão aberto e o GSM passou a
ser utilizado por todo o mundo
europeu e asiático, com um número maior de usuários.
Há várias implicações no fato
de não se ter adotado o GSM no
Brasil. A primeira é a impossibilidade de usuários brasileiros
poderem fazer o "roaming" na
Europa e vice-versa. A segunda
é que restringiu a disputa no
mercado brasileiro, a fabricantes com tecnologia TDMA e
CDMA.
As empresas interessadas na
tecnologia GSM lutam para que
a frequência da banda C fique
em 1,8 GHz, reservando 1,9 GHz
para a telefonia de terceira geração. Isso permitiria manter
compatibilidade com usuários
americanos (que seriam atendidos no Brasil pelas bandas A e
B) e do resto do mundo (atendidos pela banda C e pela terceira
geração).
O jogo é pesado pela seguinte
razão: se prevalece o padrão
americano, dificilmente se ampliará a competição no mercado
brasileiro, já que, nas próximas
licitações, as atuais operadoras
terão vantagens dos investimentos já efetuados.
Por outro lado, abrindo para o
padrão GSM, aumenta a competição, assim como a possibilidade de as novas operadoras
entrarem com diferenciações
em relação aos serviços atuais.
Mas haverá a depreciação do
capital já investido pelas atuais
operadoras.
Estão a favor do GSM todos os
que estão fora ou com pequena
participação no mercado atual
-como Italia Telecom, Alcatel,
Siemens, Nokia e Embratel, entre outros. Contra a nova tecnologia estão os operadores que
ocupam posição dominante.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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