São Paulo, sábado, 27 de maio de 2000


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LUÍS NASSIF

A guerra da banda C

Nas próximas semanas vai pegar fogo a discussão sobre a banda C da telefonia celular -a nova etapa, que abrirá espaço para empresas que irão concorrer com as bandas A e B.
O ponto central de discussão é acerca da frequência a ser disponibilizada para a nova banda. Não se trata apenas de uma questão técnica, mas de algo que poderá mudar o perfil da telefonia celular brasileira.
A tecnologia do celular viveu três revoluções. A primeira foi a da tecnologia AMPS, analógica. A segunda foi a telefonia digital. A próxima será a tecnologia de terceira geração, capaz de permitir o acesso direto à Internet e o tráfego de imagens.
Na definição da tecnologia de segunda geração, nos Estados Unidos proliferam os sistemas fechados, basicamente os TDMA e CDMA -utilizados no Brasil. A reação da Europa foi trabalhar em cima de um padrão aberto, que permitisse às diversas operadoras estabelecer compatibilidade entre si e não ter de pagar royalties. O sistema foi o GSM, que surgiu no final dos anos 80.
A fim de criar uma padronização mundial, em 1992 a União Internacional de Telecomunicações (UIT) decidiu lançar o programa International Mobile Comunication, destinado a preparar o terreno para 2000. Nessas reuniões decidiu-se que a banda C da telefonia celular ocuparia a frequência de 1,8 GHz e a telefonia de terceira geração ficasse em 1,9 GHz. Ocorre que, nos Estados Unidos, a frequência de 1,8 GHz já havia sido ocupada pela segurança nacional. Assim, o país decidiu jogar a banda C em 1,9 GHz, ficando fora da padronização proposta pela ITU.
Na época, o Brasil decidiu adotar o padrão americano, considerado então mais acessível que o europeu. Pesou o fato de se considerar que o maior intercâmbio turístico e comercial brasileiro é com os Estados Unidos. Utilizando a mesma tecnologia de lá, os telefones celulares brasileiros podem ser utilizados nos EUA e vice-versa.
Nesse ínterim, ocorreram modificações no mundo. A Europa conseguiu desenvolver um padrão aberto e o GSM passou a ser utilizado por todo o mundo europeu e asiático, com um número maior de usuários.
Há várias implicações no fato de não se ter adotado o GSM no Brasil. A primeira é a impossibilidade de usuários brasileiros poderem fazer o "roaming" na Europa e vice-versa. A segunda é que restringiu a disputa no mercado brasileiro, a fabricantes com tecnologia TDMA e CDMA.
As empresas interessadas na tecnologia GSM lutam para que a frequência da banda C fique em 1,8 GHz, reservando 1,9 GHz para a telefonia de terceira geração. Isso permitiria manter compatibilidade com usuários americanos (que seriam atendidos no Brasil pelas bandas A e B) e do resto do mundo (atendidos pela banda C e pela terceira geração).
O jogo é pesado pela seguinte razão: se prevalece o padrão americano, dificilmente se ampliará a competição no mercado brasileiro, já que, nas próximas licitações, as atuais operadoras terão vantagens dos investimentos já efetuados.
Por outro lado, abrindo para o padrão GSM, aumenta a competição, assim como a possibilidade de as novas operadoras entrarem com diferenciações em relação aos serviços atuais. Mas haverá a depreciação do capital já investido pelas atuais operadoras.
Estão a favor do GSM todos os que estão fora ou com pequena participação no mercado atual -como Italia Telecom, Alcatel, Siemens, Nokia e Embratel, entre outros. Contra a nova tecnologia estão os operadores que ocupam posição dominante.


E-mail - lnassif@uol.com.br



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