São Paulo, sábado, 27 de maio de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCOSUL
Em caso de agravamento da crise, solução seria dolarizar, mas não desvalorizar o peso; "Todos pensam em dólar"
Paridade ainda é consenso na Argentina

GUSTAVO CHACRA
DE BUENOS AIRES

A manutenção da conversibilidade (1 peso vale US$ 1) é a melhor política cambial para a Argentina, segundo integrantes de diversos setores da economia ouvidos pela Folha.
Caso a crise se aprofunde e seja necessária uma mudança no regime cambial, a preferência é pela dolarização, e não pela desvalorização do peso.
As únicas vozes dissonantes são as de alguns sindicalistas. Segundo Hugo Moyano, líder da facção dissidente da CGT (principal central sindical argentina), é preciso mudar o modelo econômico.
Não disse, porém, ser favorável à desvalorização do peso. "Quem tem de saber isso são os economistas e os políticos. Eu posso afirmar apenas que há uma enorme insatisfação social no país."
Para os economistas, a desvalorização ou a dolarização trariam mais custos do que soluções. O problema, segundo eles, é o déficit fiscal, e o governo precisa resolver esse problema de uma vez.
Ernesto O'Connor, da Fundação Mediterrânea, diz que o ajuste fiscal que está sendo anunciado pelo governo precisa funcionar, e não repetir o do início do ano, quando se prometeu um corte de US$ 1,4 bilhão -que não ocorreu. Porém, segundo o economista, o risco de mudança no câmbio por enquanto seria pequeno. "Quem apostar nisso irá perder dinheiro", diz, se baseando nas reservas internacionais do país, que não diminuíram.
O economista Estevan Medrano, do Estudio Broda (consultoria), acrescenta que a situação é bem diferente de 1995, quando ocorreu a crise no México. "Naquela ocasião, as reservas diminuíram 18%", afirma.
Enrique Mantilla, presidente da Câmara dos Exportadores da Argentina, diz que seu setor não é favorável à desvalorização, pois esta traria muitos prejuízos. Segundo ele, o governo "precisa é proteger mais as empresas argentinas, mas não por meio da desvalorização".
A idéia da dolarização está crescendo na Argentina. Primeiro foi o ex-ministro da Economia Domingo Cavallo, responsável pela implantação da conversibilidade no país. Ele enviou carta ao presidente Fernando de la Rúa sugerindo a dolarização tanto na Argentina como no Mercosul.
Em seguida foi o ex-presidente Carlos Menem, que em artigo publicado nesta semana aconselhou o governo a adotar o dólar como moeda. E, de acordo com os analistas econômicos, essa também é a visão dentro do governo, caso a crise se aprofunde.
Isso porque 90% das dívidas dentro da Argentina são em dólar. "Todo o setor privado possui dívidas na moeda americana", afirma O'Connor.
Mas a dolarização poderia trazer consequências desfavoráveis, como a perda da soberania do país em relação à moeda e conflitos no Mercosul, afirma Carlos Pérez, da Fundação Capital.
Ramallo, do Banco Galícia, discorda. "Atualmente já vivemos praticamente com o dólar como moeda." "Todos pensam em dólar", acrescenta O'Connor.


Texto Anterior: Combustíveis: Postos de BH começam a cortar preço
Próximo Texto: Volta da híper é o temor, dizem analistas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.