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OPINIÃO ECONÔMICA
A roupa nova do rei
BENJAMIN STEINBRUCH
Desapontado com a decisão do Banco Central de
manter a taxa de juros em 26,5%,
fui buscar nos escaninhos da infância um livrinho colorido do genial dinamarquês Hans Christian
Andersen (1805-1875). Título: "A
Roupa Nova do Rei".
Conta Andersen que, muitos
anos atrás, um rei gostava muito
de exibir suas roupas. Achava importantíssimo vestir-se bem e não
dava ouvidos a conselheiros que
lhe sugeriam preocupar-se mais
com outras coisas. Um belo dia,
chegaram ao palácio alguns visitantes estrangeiros, entre eles dois
trapaceiros que se apresentaram
como hábeis tecelões das mais finas fazendas coloridas do mundo.
Segundo alardeavam, os tecidos
que faziam eram especiais e tinham a característica mágica de
parecer invisíveis às pessoas incompetentes ou pouco inteligentes. O rei entusiasmou-se com os
dois visitantes, ofereceu-lhes luxuosas instalações e os contratou
a peso de ouro. Imaginou que poderia usar o tecido mágico para
identificar seus subalternos inteligentes e livrar-se dos tolos.
Os espertalhões prepararam então dois teares, começaram a tecer e passaram toda a noite no
trabalho.
De manhã, o rei chamou seu
mais credenciado ministro, o da
Fazenda, a quem mandou verificar o andamento do trabalho. Ao
entrar no salão dos teares, o ministro ficou assustado, porque
não via nada, embora os artesãos
simulassem manipular o tecido
produzido. Mas não disse uma
palavra. Fingiu apreciar o padrão
das cores e a leveza do fio e voltou
ao gabinete do rei para elogiar as
maravilhas do trabalho.
No dia seguinte, o rei mandou
outro ministro verificar o trabalho e recebeu informações semelhantes. O tecido era realmente
muito bonito, de qualidade nunca vista.
O soberano decidiu então verificar pessoalmente a maravilha
que estava sendo produzida. Ao
chegar ao salão, viu os teares vazios, mas procurou disfarçar. Afinal, não confessaria publicamente sua ignorância. Ao lado dele,
todos os principais membros da
corte olhavam admirados. Sem
exceção, elogiavam o resultado
do trabalho e insistiam em que o
rei mandasse fazer uma roupa
com aquela fazenda especial, que
pudesse ser usada na parada real
marcada para o dia seguinte.
Hans Christian Andersen conta
que o rei, vaidoso, concordou na
hora com a sugestão dos súditos.
Os próprios tecelões trabalharam
mais uma noite inteira, fingindo
cortar cuidadosamente os tecidos
e confeccionar a roupa. Na hora
de experimentá-la, o monarca
olhou para o espelho e não viu
nada, apenas seu corpo nu. Mas
todos os cortesãos fizeram largos
elogios à vestimenta.
A história se espalhou pela cidade e toda a população foi às ruas
para ver a maravilhosa roupa nova do rei.
Imponente, o rei saiu marchando à frente da parada. Um ministro abaixou-se, fingiu pegar alguma coisa e o acompanhou como
se carregasse a cauda do manto.
A multidão olhava atônita, não
via a roupa, mas aplaudia efusivamente. Até que um menino gritou: "O rei está nu".
Ao ver que o garoto falava a
verdade, o rei teve um arrepio, ficou envergonhado, mas marchou
de cabeça erguida até o fim da
parada. E o fiel ministro continuou carregando a cauda que
não existia.
Benjamin Steinbruch, 49, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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