São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2004

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PREÇOS

Repasse de 18% ao consumidor eleva IPCA em 0,70 ponto, diz consultoria

Gasolina mais cara pode pôr em risco meta de inflação

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Se a Petrobras ajustar o preço da gasolina às cotações do mercado internacional, o Banco Central terá mais dificuldade para cumprir a meta de inflação: um reajuste ao consumidor de 18% representará impacto de 0,70 ponto percentual no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano.
A previsão de aumento é da consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura) e leva em conta a defasagem de 34% em relação aos preços do golfo do México (ou golfo Americano, no jargão do setor petrolífero), uma das principais referências internacionais da gasolina.
O reajuste ao consumidor, porém, não será dessa ordem porque os impostos e o álcool -misturado na proporção de 25% à gasolina- não subirão por causa das cotações externas.
O peso do combustível no IPCA foi calculado a partir de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Neste ano, a meta de inflação é de 5,5%, com tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. O IPCA em 12 meses está em 5,26%.
Oficialmente, a Petrobras informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não cogita um reajuste neste momento e que o objetivo é ter os preços alinhados num período mais longo, sem repassar as oscilações imediatamente. A estatal afirma que vai esperar uma maior estabilidade do mercado internacional de petróleo antes de tomar uma decisão.
Com a piora da crise no Iraque, o petróleo, referência para o preço dos derivados, tem se mantido em níveis recordes acima de US$ 40 o barril em Nova York.
O especialista Rafael Schechtman, do CBIE, disse que a Petrobras, mais cedo ou mais tarde, terá de aumentar seus preços. Ele acredita, porém, que a correção de 18% não será feita de uma só vez, justamente por causa do impacto na inflação.
Um cenário traçado pelo Grupo de Conjuntura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) prevê que o IPCA ficará em 7,1% neste ano se o combustível subir 15%. Já uma alta de 20% levaria o índice a 7,7%. Um aumento de até 10%, no entanto, não alterará a previsão da taxa de 6,5% neste ano. As estimativas da UFRJ também consideram o impacto indireto do reajuste em transportes e outros produtos e serviços.
"É um fator de preocupação adicional para o Banco Central na hora de decidir o rumo da taxa de juros", diz Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista da UFRJ.
O economista Alexandre S'Antanna, da administradora de recursos ARX Capital, disse que o aumento dos combustíveis é um risco para a meta de inflação, embora não creia que o governo permita que a Petrobras reajuste o preço da gasolina num ano eleitoral. Por isso, mantém sua estimativa de 6,7% para o IPCA do ano.
Apesar de a gasolina não ter aumentado na refinaria, o preço do produto já começou a subir em decorrência do reajuste do álcool.
Esses reajustes terão uma contribuição estimada para o IPCA de 0,09 ponto percentual, no caso do álcool, e de 0,06 ponto percentual no da gasolina, que serão diluídos nos índices de maio e junho porque o aumento ocorreu no final deste mês.


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