CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As vendas reais da indústria paulista caíram 6,1% em abril em comparação a março. A queda -registrada pela primeira vez no ano- ocorreu nos 11 setores pesquisados pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), segundo levantamento divulgado ontem pela entidade.
Os indicadores anunciados pela Fiesp mostram ainda redução na capacidade instalada das indústrias e diminuição no total de horas trabalhadas na produção.
Para o diretor de pesquisas econômicas da Fiesp, Claudio Vaz, a retração nas vendas se explica em parte pelo menor número de dias úteis em abril -no mês passado foram 20, contra 23 em março.
A segunda explicação para o resultado negativo nas vendas é o fato de que alguns setores tiveram desempenho "excepcionalmente" bom em março, o que não se repetiu ao longo do mês passado. "Isso ocorreu na linha branca [fogão, geladeira] e no setor automotivo", diz Vaz.
A federação, porém, não quis informar o peso de cada um desses fatores no resultado do mês.
Em abril, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) divulgou que as vendas de automóveis no mercado interno tiveram "tombo" de 18,5% na comparação com o mês anterior. Em março, o setor havia registrado aumento nas vendas de 35,2% em relação a fevereiro.
"Não se pode descartar ainda [no resultado de abril] a redução no consumo afetada pela queda nos rendimentos", disse Vaz, ao avaliar a queda nas vendas.
O rendimento médio caiu 3,5% no mês passado ante abril de 2003, de acordo com pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em seis regiões metropolitanas do país.
Para a Fiesp, só os indicadores industriais dos próximos 90 dias poderão revelar se o processo de retomada da economia -verificado no primeiro trimestre deste ano- foi interrompido.
"Não dá para falar em crise a partir dos dados de abril. A tendência verificada anteriormente [de aumento nas vendas] não se repetiu. É preciso lembrar que um ciclo de crescimento pode ter altas e baixas. Só com os próximos resultados poderemos afirmar o que de fato vai ocorrer", afirmou.

"Sintomas" positivos
Na avaliação da Fiesp, o mercado interno deu "sintoma de melhora" na atividade industrial, quando são analisados os dados de janeiro a abril deste ano ou comparados aos de 2003.
As vendas reais cresceram 19,1% no primeiro quadrimestre deste ano ante igual período em 2003 -o destaque foi para os segmentos químico e mecânico.
Na comparação de abril com o mesmo mês do ano passado, as vendas tiveram elevação de 24,5%.
"A exportação sustenta essa recuperação. Só no setor industrial houve crescimento de 30% no quadrimestre, o que corresponde a um incremento de US$ 8,5 bilhões na comparação com igual período do ano passado", disse.
A Fiesp destacou, entretanto, que o desempenho positivo de segmentos ligados ao mercado interno foi pontual, desigual e setorial. "Não se pode esquecer que o ano de 2003 é uma base muito fraca de comparação. Isso certamente influencia os resultados", disse.
Entre os segmentos que tiveram crescimento, o empresário citou os da linha branca, com aumento de 18,6% nas vendas na comparação de janeiro a março de 2004 com o mesmo período de 2003, e da linha marrom (televisores, DVDs), com mais 68,1%.
"São atividades sensíveis ao crédito, principalmente a consignação em folha de pagamento, que movimentou cerca de R$ 6 bilhões. Parte desse dinheiro foi usada para pagar dívidas, mas parte foi para o consumo."
No setor de informática e telecomunicações, motivado por novos investimentos, o aumento verificado foi de 46% no quadrimestre, informa a Fiesp.

Salários em alta
Outro indicador positivo verificado no levantamento da indústria paulista foi o aumento de 8,2% -na comparação com abril de 2003- no salário real médio pago pelas empresas em abril.
O pagamento de reajustes parcelados negociados em 2003 explica essa alta, informa a Fiesp.


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