São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2004

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DIAS DE TENSÃO

Banco JP Morgan reduz recomendação para aplicar em papéis do país; dólar e risco fecham em alta

Títulos brasileiros são rebaixados de novo

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Diferentes notícias azedaram o humor dos investidores. Além de os dados de inflação divulgados ontem mostrarem aceleração nos preços, o banco americano JP Morgan voltou a rebaixar sua recomendação para os títulos da dívida brasileira. Com isso, dólar, risco-país e juros futuros fecharam em alta.
O risco-país brasileiro fechou com alta de 3,0%, aos 720 pontos. O dólar subiu 0,76%, para os R$ 3,163.
Ontem foram divulgados o IPC da Fipe (referente à terceira quadrissemana de maio) e o IPCA-15. Ambos os índices demonstraram aceleração da inflação.
A possibilidade de o governo ser derrotado no julgamento da cobrança de contribuição previdenciária dos servidores inativos no STF (Supremo Tribunal Federal) também pesou negativamente no humor dos investidores.
O JP Morgan recomendou a investidores que reduzam a proporção de suas aplicações em títulos brasileiros do nível médio dos demais países para abaixo desse patamar. Papéis de outros países emergentes também sofreram baixa de recomendação. Há pouco mais de um mês, o mesmo banco já havia rebaixado a recomendação de investimento em títulos do Brasil.
Fábio Akira, economista do JP Morgan no Brasil, afirmou que a decisão não está ligada aos fundamentos da economia brasileira. "[O risco-país do Brasil] até superestima o risco de crédito real brasileiro. Os "spreads" estão exagerados em relação aos fundamentos econômicos do país", diz Akira.
O economista explica que a decisão veio em razão das perspectivas em relação ao andamento da política monetária nos EUA e de seus reflexos nos emergentes. O JP Morgan elevou sua projeção para os juros norte-americanos no fim do ano de 2% para 2,25%. Atualmente, essa taxa está em 1%.
O risco-país é um indicador medido pelo JP Morgan que ilustra o prêmio (o "spread") pago por um país para emitir títulos no mercado internacional em comparação às taxas pagas por papéis do Tesouro dos EUA. Quanto mais alto o risco, em tese é maior a possibilidade de um país dar um calote.
As projeções das taxas futuras de juros fecharam em alta na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros). Com os últimos dados de inflação, investidores já trabalham com a possibilidade de o BC voltar a manter a taxa básica de juros (Selic) em 16% anuais, como fez em seu último encontro.
No pregão de ontem, a taxa do contrato DI (que segue os juros praticados entre os bancos) mais negociado subiu de 17,44% 17,73% ao ano. Esse contrato tem prazo de resgate em janeiro de 2005. As oscilações das taxas futuras são importantes para as empresas fazerem seus planejamentos de investimentos.
No contrato com prazo em julho -que serve de referência para a expectativa em torno da reunião do Copom do próximo mês-, a taxa foi de 15,86% para 15,90%.
Hoje, o Banco Central divulga a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em que trará explicações para a decisão da semana passada de interromper os cortes dos juros.
A Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) demonstrou ontem que a alta do câmbio já começa a ser repassada para alguns preços. Isso pode levar o BC a se manter cauteloso, ou seja, não mexer nos juros novamente em junho, avaliam analistas.
No mês, a moeda norte-americana acumula alta de 7,88% diante do real. No ano, a valorização do dólar é de 8,99%.


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