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Exportação de carne bovina cresce, mesmo com aftosa
Vendas de carne suína, porém, registraram queda de 25,9% até maio passado
Frigoríficos direcionaram ao mercado interno a produção dos Estados sob veto e venderam para a Rússia o produto das demais regiões
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Oito meses depois de encontrados os focos de febre aftosa
nos Estados de Mato Grosso do
Sul e do Paraná, os números do
comércio de carne bovina continuam subindo, apesar do embargo total ou parcial ao produto brasileiro anunciado por 58
países, inclusive os 25 da União
Européia.
Até maio, as exportações do
produto aumentaram 13,33%,
tanto pelo crescimento do volume embarcado como por causa do aumento do preço da carne brasileira no mercado internacional.
Os focos da doença não afetaram as vendas de carne bovina
como se esperava, mas atingiram em cheio as exportações de
carne suína, que despencaram
25,9% até maio, apesar de não
ter sido identificado nenhum
suíno com a doença no país.
O problema desse setor é que
as exportações estão muito
concentradas em um só mercado, a Rússia, que compra 65%
do volume destinado ao mercado externo, e o Estado de Santa
Catarina é responsável por cerca de 60% das exportações de
suínos para a Rússia, que não
fez distinção ao embargar as
importações da carne brasileira
em dezembro do ano passado.
A Rússia é o principal mercado para as carnes brasileiras e
embargou os produtos do Rio
Grande do Sul, de Santa Catarina, de Mato Grosso, de Goiás,
de São Paulo e de Minas Gerais.
Na semana passada, o veto às
exportações do Rio Grande do
Sul foi suspenso.
Os produtores continuaram
exportando porque direcionaram a produção das regiões vetadas para o mercado doméstico, e exportaram para a Rússia
o produto das demais regiões.
"A maioria dos frigoríficos
possui filiais em vários Estados
e todos foram muito eficientes
em fazer esse remanejamento,
o que evitou a queda das vendas", disse o presidente da
Abiec (Associação Brasileira
das Indústrias Exportadoras de
Carne) e ex-ministro da Agricultura, Marcus Vinicius Pratini de Moraes.
De janeiro a maio do ano passado, o Brasil vendeu 73.087 toneladas de carne bovina "in natura" para a Rússia, ao preço de
US$ 127,5 milhões. Neste ano,
os embarques cresceram para
87.157 toneladas, e a receita
com as vendas subiu para US$
177,1 milhões no mesmo período, com alta de 38,9% na receita. A Abiec estima que, por causa dos embargos, o Brasil deixou de exportar US$ 150 milhões no ano passado.
Os exportadores de suínos
não puderam utilizar a mesma
manobra para manter o mercado russo por causa da grande
concentração de suínos que sai
de Santa Catarina.
O diretor do Departamento
Sanitário e Fitossanitário do
Ministério da Agricultura,
Odilson Ribeiro, explica que,
segundo as regras sanitárias da
Rússia, os Estados vizinhos aos
locais onde há doença ficam
sem poder exportar por um
ano.
Compromisso russo
No início de abril, o primeiro-ministro russo, Mikhail
Fradkov, visitou o Brasil e prometeu às autoridades brasileiras que iria estudar o caso de
Santa Catarina, mas até agora o
embargo não foi suspenso.
Neste mês, o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) esteve em Moscou para negociar
o fim do embargo imposto a
Santa Catarina e a outras regiões, mas só conseguiu agendar uma vista de técnicos russos ao Brasil.
De acordo com a Abipec (Associação Brasileira da Indústria
Produtora e Exportadora de
Carne Suína), por conta das
restrições as indústrias gaúchas habilitadas pela Rússia
conseguem exportar, no máximo, 60% de sua capacidade, o
que dificulta o aproveitamento
do potencial do mercado russo.
Para o presidente da Abipec,
Pedro de Camargo Netto, "o
Brasil precisa relembrar o compromisso assumido pela Rússia
ante o governo brasileiro devido ao apoio [do Brasil] à entrada do país na OMC (Organização Mundial do Comércio)".
No protocolo assinado na
ocasião, os russos se comprometeram a cumprir os acordos
da OMC e da OIE (Organização
Internacional de Epizootias).
"E isso não está ocorrendo. O
embargo já deveria ter sido liberado para os Estados livres
da febre aftosa", afirmou.
Ajuda extra
Os exportadores de carne bovina, por sua vez, receberam
uma ajuda extra indireta da Argentina. Desde fevereiro, o governo argentino vem restringindo as exportações de carne
para controlar a inflação. Isso
reduziu a oferta mundial, já que
o vizinho também é um importante fornecedor de carne, o
que fez os preços aumentarem
e o Brasil acabou ocupando
parte de seu mercado. Segundo
Pratini, o preço da carne brasileira já aumentou 14% neste
ano no mercado internacional.
Segundo Ribeiro, boa parte
dos mercados que embargaram
total ou parcialmente a carne
brasileira não são consumidores importantes do produto.
Entre os países que mais
preocupam estão a Rússia, o
maior consumidor, a África do
Sul, um grande mercado que
embargou todo o país, e o Chile,
que chegou a ocupar o quarto
lugar como consumidor da carne brasileira e embargou todo o
país.
Apenas na semana passada o
vizinho levantou o embargo
contra Santa Catarina e Rio
Grande do Sul.
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