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VINICIUS TORRES FREIRE
A emenda, o soneto e a estrovenga
Meta oficial de inflação é maior que a oficiosa. Governo vai gastar mais dinheiro para fazer média e marketing, só
A NOVA META de inflação é um
exemplo típico do método
Lula de tomar decisões. Trata-se do jeito muito brasileirinho de
acomodar conflitos, de optar pela
média das opiniões divergentes, de
fazer média. É a tradição do assoprar
sem mesmo morder, do devagar e
sempre das transições transadas, a
flutuar nem alto no céu nem perto
da terra, "vai indo que eu não vou",
"deixa disso". É o conluio da cordialidade pastosa e de mentes pusilânimes contra a razão, a têmpera moral
e a determinação de fazer o que deve
ser feito depois de uma ponderação
racional e disciplinada das circunstâncias e das vantagens e desvantagens dos possíveis rumos de ação.
É explicação "culturalista"? "Política é assim mesmo"? Considere a
ambivalência espertinha dos acordos políticos de Lula 1 ou das promessas salariais para fazer média
com servidores (inviáveis, não cumpridas e enroladas). Considere as
ações e o chororô público contra o
"spread" bancário, melhor dizer
protelações (como conta-salário e
cadastro positivo, travadas pelo
lobby discreto dos bancos). Considere a embromação no tumulto dos
aeroportos e a do fiasco ambiental e
administrativo na energia. Oh,
quanto riso, oh, quanta cascata, somos mil palhaços no salão (de embarque de aeroportos ou da ante-sala do apagão). Essa delonga espertinha é inépcia, não é política.
Mas, sim, falava-se de inflação de
preços, não de procrastinações manhosas. Lula decidiu que a meta de
inflação fica oficialmente em 4,5%
até 2009. Havia defensores da redução da meta para 4% (caso de Henrique Meirelles, presidente do Banco
Central, e Paulo Bernardo, ministro
do Planejamento) ou até menos.
Havia bons argumentos econômicos e políticos para mudar ou não a
meta, havia interesses num e noutro
tipo de decisão. Na prática, porém, a
decisão oficial foi atropelada pela
decisão oficiosa, que transpareceu
nas declarações da cúpula econômica de Lula ao divulgar a nova meta.
Lula, o obsequioso, quis agradar a
gregos e baianos. Meirelles deu a entender que aquilo que se suspeitava
ser a meta de inflação oculta e informal do BC, uns 3,5%, foi chancelada
num papão com o presidente -é a
meta do cafezinho no Planalto.
Guido Mantega posou de vitorioso, pois defendia a meta que foi
aprovada, mas não tem influência
prática na meta "real" -fez a meta
"pra galera" (mas não para a galera
do mercado, que é quem vai cobrar a
fatura). Para piorar, deu um "saludo
a la bandera" para a concordata econômica do segundo mandato de Lula, entre ele e Meirelles, dizendo que
a "orientação" é perseguir inflação
abaixo da meta. Oh, cáspite, se essa é
a orientação, que se baixasse a meta!
De outro modo, não deitam na cama
mas levam a fama.
Um cidadão prestante pode não
gostar do regime de metas de inflação. Mas um regime de metas meia-boca é apenas um desperdício de inteligência, de políticas e, enfim, de
dinheiro. Incerteza quanto às metas
faz apenas os detentores de dinheiro, sempre conservadores, elevar
suas estimativas de custos derivados
da inflação e, assim, o custo do crédito (juros). Perseguir uma meta menor que a oficial é jogar dinheiro fora, também é chancelar expectativas
de preços e juros desnecessariamente mais altos. É uma piada isso.
vinit@uol.com.br
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