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Decisão do CMN confunde mercado
Meta que não precisa ser cumprida pode agradar a BC e Fazenda, mas traz ambigüidade à política monetária
Meirelles ganha apoio para sua gestão mas, como queriam Mantega e Marinho, não terá respaldo para buscar meta de 3%
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Lula deu uma
de equilibrista e buscou agradar as duas alas de seu governo
com a decisão do Conselho Monetário Nacional. Manteve a
meta de inflação de 4,5% em
2009 como desejava o ministro
Guido Mantega (Fazenda), mas
autorizou o Banco Central de
Henrique Meirelles a seguir
sua atual política monetária e
perseguir uma inflação abaixo
desse percentual.
Em outras palavras, na definição de um auxiliar do presidente, Lula quis dizer que o sistema está funcionando bem,
mas a meta fica como está, só
que o BC mantém seu trabalho.
Uma decisão que mais confunde do que esclarece o mercado, ao dar margem a dupla
leitura: 1) Lula não quis baixar
oficialmente a meta, indicando
aceitar um pouco mais de inflação para evitar uma alta de juros no final de seu mandato ou
2) Deu sinal verde ao BC para
buscar inflação abaixo de 4%.
Para o Planalto, contudo, Lula foi claro. Desistiu de buscar
uma inflação mais próxima de
3% e quer algo na casa de 4%
para ver a economia crescendo
até 2010.
O fato é que Lula tentou agradar a gregos e troianos em sua
equipe. Afinal, de um lado, Meirelles e Paulo Bernardo (Planejamento) gostariam de reduzir
a meta para 4% em 2009. Argumentavam que o país deve conviver com inflação na casa dos
3% entre 2006 e 2008. Discurso que chegou a convencer a
ministra Dilma Rousseff (Casa
Civil).
A redução da meta foi até vista, dentro do próprio Planalto,
como inevitável. Só que Mantega decidiu reagir, receoso de
que turbulências internacionais nos próximos anos abortassem o processo de queda dos
juros. Contou com o apoio do
ministro Luiz Marinho (Previdência), muito próximo a Lula.
Apesar da decisão híbrida, a
leitura no Ministério da Fazenda é que o pior dos mundos seria reduzir de fato a meta em
2009 para 4%, quando o próprio mercado prevê uma taxa
nessa faixa. Reduziria o espaço
de manobra do BC e poderia levá-lo a apertar sua política monetária em 2008.
Do outro lado, a equipe de
Meirelles avalia como positiva
a decisão do CMN ao autorizar
oficialmente o BC a perseguir
uma inflação abaixo do centro
da meta. Algo que já acontece
hoje e servirá para acabar com
o discurso de que existe uma
meta oculta.
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