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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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TRABALHO

Apesar de acordo, montadora reafirma demissões

Com dois discursos, Volkswagen acirra conflito com sindicalistas

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sindicalistas brasileiros afirmaram ontem que perderam a "confiança" na Volkswagen e podem suspender as negociações em torno da criação da Autovisão Brasil, nova empresa do grupo projetada para realocar um contingente de 3.933 funcionários considerados excedentes pela montadora.
As declarações foram em reação às afirmações do presidente do grupo, Bernd Pischetsrieder, que, na última sexta-feira, confirmou a jornalistas alemães que a montadora pretende cortar cerca de 4.000 empregados no Brasil para compensar a retração nas vendas.
"A Volks tem de decidir o que ela quer. Não temos condição dar continuidade a um processo de negociação [a empresa quer o apoio dos sindicalistas para formar a Autovisão] porque a nossa confiança na empresa está prejudicada", disse Wagner Santana, representante dos trabalhadores da fábrica de São Bernardo do Campo e vice-presidente do Comitê Mundial dos Trabalhadores da Volkswagen.
Pela reação negativa dos sindicalistas, crescem as dúvidas e a confusão entre os discursos desconexos feitos pela montadora na Alemanha e no Brasil.
Aos acionistas, a matriz alemã informa que os lucros da Volkswagen mundial caíram 49% no segundo trimestre em relação a igual período de 2002, em decorrência da queda nas vendas mundiais. E reafirma a necessidade de enxugar postos de trabalho, inclusive no Brasil, para compensar a retração no mercado. Na Alemanha, a Volks não faz menção ao projeto de criação da Autovisão para administrar trabalhadores excedentes, concentrados em Taubaté e em São Bernardo.
Na última quinta-feira, o vice-presidente de Recursos Humanos da Volks no Brasil, João Rached, afirmou, entretanto, que a montadora vai respeitar acordos assinados com os sindicatos dos metalúrgicos que garantem estabilidade no emprego aos trabalhadores. No caso de Taubaté, a estabilidade termina em fevereiro de 2004 e no ABC, em 2006 -o que na prática impede as demissões nas duas fábricas.
Em reunião com os sindicalistas, o executivo também pediu "apoio" ao projeto da Autovisão, empresa que servirá para incentivar funcionários e terceiros a montarem negócios próprios. A previsão é de investir inicialmente R$ 300 milhões na Autovisão.
"Qual é o discurso que está valendo?", pergunta Santana. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, disse ontem, durante o 4º Congresso da categoria, que a Volks não pode tratar o Brasil como "colônia". A Folha não localizou ontem a direção da Volks para comentar as declarações. Nova reunião entre trabalhadores e empresa está prevista para quarta-feira em Taubaté.


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