São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

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Instabilidade aumenta e derruba mercados

Temores sobre o mercado de crédito fazem a Bovespa recuar 3,76%, e Nova York, 2,26%

Risco sobe 21%, dólar, 3,27%, e juro futuro aumentam, e Tesouro suspende leilão

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado financeiro internacional foi atingido por um vendaval. Vendas pesadas de ações e de títulos da dívida marcaram as operações de ontem. As Bolsas de Valores desabaram nos principais centros financeiros.
A Bovespa amargou perdas de 3,76%. O dólar saltou 3,27% e foi a R$ 1,927; o risco-país disparou 21% e alcançou 222 pontos, maior patamar do ano. A turbulência elevou os juros futuros, com a expectativa de que a alta do dólar e a instabilidade possam causar mudanças na trajetória de queda dos juros. Já o Tesouro Nacional cancelou leilão de títulos públicos.
O epicentro mais uma vez se localizou no mercado imobiliário norte-americano. E a ordem predominante ontem foi vender ativos (ações, títulos da dívida) que carregam maior risco e buscar outros mais seguros, como os papéis do Tesouro dos EUA e moedas de países desenvolvidos. Na terça, o dia já havia sido bastante tenso.
Os mercados acionários foram punidos em todos os cantos. Nos EUA, a Bolsa de Nova York perdeu 2,26%, e a Nasdaq, 1,84%. Na Europa, a Bolsa de Londres teve desvalorização de 3,15%, seguida por Paris (-2,78%) e Frankfurt (-2,39%); na América Latina, houve quedas relevantes no México (-3,56%), em Buenos Aires (-3,99%) e no Chile (-2,10%). A Bolsa de Tóquio abriu hoje com queda de 2,55%.
Os pregões abriram ontem em terreno negativo, repercutindo os dados decepcionantes das vendas de casas novas nos EUA, que caíram em junho 22,3% em relação ao mesmo mês de 2006.
A notícia de que dois grandes fundos de investimento da Austrália tiveram de vetar saques devido a riscos de quebrarem colaborou para elevar o temor dos investidores, assim como a alta do petróleo.
"Há muitas incertezas em relação ao futuro do setor imobiliário americano e do mercado de crédito internacional. Em dias como hoje [ontem], em que notícias elevam as dúvidas, os investidores correm para se desfazer de ativos de maior risco em busca de porto seguro", disse Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos.
A percepção de que o setor imobiliário americano vive um momento ruim foi agravada com o anúncio de que duas grandes construtoras do país tiveram prejuízos no último trimestre. Um aprofundamento na crise imobiliária pode afetar o desempenho de toda a economia dos EUA -principal motor da economia global.
"O mercado atravessa um momento de reprecificação dos ativos, que tem afetado o mundo inteiro. Está havendo uma realocação de recursos, e é normal que os preços dos ativos se reajustem", disse Alexandre Lintz, do banco BNP Paribas.
A Bovespa atingiu há uma semana seu mais elevado nível histórico, ao alcançar os 58.124 pontos. Como a pontuação representa o valor das ações, o nível recorde mostra que nunca antes as ações estiveram tão valorizadas. Dessa forma, em um dia como ontem, os investidores não hesitaram em se desfazer de ações dos mais variados segmentos -tanto que todos os 59 papéis do Ibovespa terminaram em queda.
Durante o pregão de ontem, a Bovespa chegou a cair 6,02%. Na semana, a Bolsa está com baixa acumulada de 6,18%, mas no ano opera em alta de 21,18%.
Ontem, o dólar teve sua maior alta diante do real em um dia desde maio de 2006 e fechou a R$ 1,927 -a maior cotação desde 29 de junho.
Essa escalada do dólar não intimidou o Banco Central, que não deixou de realizar na tarde de ontem leilão para comprar a moeda. O movimento intensifica a formação de reservas internacionais, que já estão em US$ 154,6 bilhões. Muito criticadas, elas agora ajudam a conter os efeitos da turbulência.
"O dólar subiu como há tempos não ocorria. Mas entendo que o movimento de hoje [ontem] foi pontual. Pode até se arrastar por alguns dias, mas as cotações ainda tendem a recuar em breve", avalia Mário Battistel, diretor de câmbio da corretora Novação.


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