São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

A força da economia


Emprego e crédito mostram a força; a fraqueza está do lado do governo, vide o caos aéreo e a frouxidão da política fiscal


A DIVULGAÇÃO de novos dados relativos ao crescimento do emprego, da evolução da massa salarial e do volume de crédito bancário reforçam a leitura otimista sobre o estado de nossa economia. A Fundação Seade e o Dieese apresentaram a evolução do mercado de trabalho na Grande São Paulo, mostrando pela primeira vez em seis meses um crescimento do emprego no setor industrial. Entre junho de 2006 e junho de 2007, o número de ocupados cresceu 3,8%, e o desemprego aberto caiu de 11,3% para 10,3%.
Os mesmos Seade e Dieese divulgaram dados relativos ao rendimento do trabalho em seis regiões metropolitanas no Brasil em maio. A massa salarial dos ocupados nessas seis regiões cresceu em relação ao mesmo mês do ano anterior quase 8%, refletindo o aumento da ocupação e da remuneração real. Os dados do IBGE para essas mesmas regiões estão apenas um pouco abaixo dos do Seade/Dieese, confirmando o quadro de expansão do emprego e da renda real.
Além disso, o Banco Central divulgou as informações sobre o crédito bancário relativas a junho. O crédito às pessoas físicas continua a se expandir a taxas anuais superiores a 25% -chegando a 30% no caso de veículos-, e os prazos médios dos financiamentos ainda estão aumentando. Por exemplo, em junho de 2005, o prazo médio das operações de crédito pessoal era de 300 dias; em junho de 2007, passou para 433 dias. Esse alongamento é muito importante, pois corresponde a uma redução expressiva da prestação mensal, que sabemos ser o fator mais importante na capacidade do brasileiro de se endividar. No segmento de automóveis, o prazo médio dos financiamentos passou de 472 dias em junho de 2005 para 562 em 2007, com o prazo máximo já superior a 60 meses.
A força do consumo das famílias está sendo acompanhada por um movimento vigoroso de investimentos em aumento da capacidade produtiva do setor privado. Com essa resposta, fecha-se o ciclo virtuoso de uma economia de mercado e criam-se as condições microeconômicas para perenidade dessa fase de expansão.
Precisamos agora voltar nosso olhar para a dinâmica macroeconômica, na qual esse movimento privado de expansão se insere. Duas questões centrais devem ser consideradas. Em primeiro lugar, seu impacto sobre o controle da inflação, pois claramente a demanda privada -consumo e investimentos- está crescendo acima do aumento da oferta interna. Isso ocorre porque os investimentos para aumento da capacidade produtiva, e que representam no futuro um aumento da oferta de bens e serviços, levam tempo para maturar. Além disso, durante o período de construção de novas instalações ou aumento das existentes, o investimento corresponde a um aumento de demanda. Aliás, é esse raciocínio simplório no mundo de hoje que tira o sono de economistas treinados apenas no ambiente de uma economia fechada.
Mas aqui entra outra característica nova da economia brasileira. Esse descompasso entre demanda e oferta está sendo em parte coberto por um incrível aumento das importações, principalmente nos setores mais aquecidos, como o de bens de consumo. Esse processo está em seu início, na medida em que não alcançamos ainda nem o nível de abertura verificado entre 1996 e 1998.
Esses são os principais elementos da força de nossa economia; as fraquezas -e os riscos- estão todas do lado do governo, como mostram o caos do setor aéreo e a frouxidão da política fiscal.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 64, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).

lcmb2@terra.com.br


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