São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2000


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NOVA ECONOMIA
Investimento em publicidade estagnou-se, e sites em dificuldades tentam vender negócio a competidores maiores
Nova economia perde o fôlego no país

MARCELO BILLI
VANESSA ADACHI


DA REPORTAGEM LOCAL


A nova economia brasileira dá sinais de cansaço após a grande corrida do início deste ano.
Os investimentos em publicidade do setor estagnaram, profissionais que migraram da economia tradicional para as empresas pontocom começam a voltar e sites sem fôlego financeiro tentam vender seu negócio para os competidores de maior músculo antes de, simplesmente, interromperem seus serviços.
É natural o que está acontecendo. Qualquer mercado enfrenta uma consolidação e só vão sobrar os mais fortes”, afirma Nizan Guanaes, presidente do portal iG.
Vimos muitos negócios que não tinham nem pé nem cabeça. O que está ocorrendo agora é a depuração do mercado, diz Marcelo Lacerda, diretor do Terra.
Não se trata de uma catástrofe, com quebradeira generalizada. Mas, sem dúvida, o setor perdeu o ímpeto que marcou os primeiros meses deste ano.
Os investimentos em publicidade são um bom indicador dessa perda de força. Os gastos vinham crescendo e agora chegam a apresentar um leve declínio. Segundo levantamento do Ibope-Monitor, em janeiro o investimento foi de US$ 32,8 milhões e foi subindo mês a mês até atingir US$ 53,8 milhões em maio. Em junho, no entanto, o investimento total recuou para US$ 50,2 milhões.
O desempenho não é igual em todos os ramos da Internet. Enquanto os gastos em publicidade de sites e provedores recuaram, os anúncios ligados a comércio na rede continuaram crescendo.
O detonador dessa ressaca foi a crise da Nasdaq, a Bolsa de ações de tecnologia de Nova York, ocorrida na metade do semestre. As ações de Internet despencaram, muitas viraram pó, e isso fez com que os investidores passassem a ser mais criteriosos na hora de injetar dinheiro nos projetos.
Agora, só consegue levantar dinheiro quem opera no azul ou muito próximo disso, diz Gustavo Nader, sócio do site de esportes de aventura camerasports.com.br. Devido à seca de recursos, o site teve de rever seu plano de negócios, cortando custos e partindo para gerar receita.
Muitos sites não estão conseguindo corrigir sua rota. Alguns casos são mais notórios por envolverem empresas que fizeram certo alarde na mídia.
O provedor de acesso gratuito Super11.net, que tem como sócios o libanês Nagib Georges Mimassi e o banco Safra, já demitiu mais de 10% dos seus 150 funcionários iniciais e não esconde que está negociando parcerias.
A Folha apurou que há poucos dias o Super11.net bateu à porta do iG disposto a fazer qualquer negócio. A conversa não prosperou e atualmente o portal negocia com outros possíveis interessados em assumir suas operações.
Outro provedor de acesso, o Tutopia, passou por forte enxugamento em julho. Foram demitidos todos os profissionais que produziam o conteúdo do portal, que terceirizou o serviço.
O Amelia.com, portal para público feminino criado pelo grupo Pão de Açúcar, também foi ajustado. Criado para se tornar um projeto independente do grupo, o Amelia.com teve suas aspirações reduzidas pela dificuldade de levantar recursos e será mantido sob a estrutura do Pão de Açúcar.
Odécio Grégio, diretor da Scopus.com, empresa do grupo Bradesco para negócios de Internet, afirma que tem sido procurado por donos de pequenos sites em dificuldades interessados em passar o negócio adiante. Alguns até aceitam entregar o site sem receber nada, apenas em troca de emprego, afirma o executivo.
Até agora, existem menos casos reais de ajustes na Internet do que os boatos fazem supor. As dificuldades em gerar lucros do setor e a feroz concorrência entre as empresas tornaram o terreno fértil para a proliferação de rumores.
O site falidos.com.br, cópia mal feita do norte-americano fuckedcompanies.com, é uma espécie de fórum de fofocas.
Qualquer pessoa pode entrar no site e escrever o que bem entender sobre qualquer empresa pontocom. Os autores da idéia não se identificam. A Folha tentou localizá-los, sem sucesso.
Empresas citadas no falidos.com.br dizem estar sendo alvo da inveja dos concorrentes.
Estamos bem e prestes a assinar um contrato para hospedar o site em um dos grandes portais de acesso, diz Marcelo Dangot, diretor do noiteaovivo.com.br.




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