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Pessimismo europeu gera mal-estar em NY
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Causaram mal-estar na reunião
de ontem em Nova York as declarações sobre o Brasil dadas no último fim de semana por economistas de bancos europeus, publicadas pelo diário econômico
"Frankfurter Allgemeine Zeitung"
e depois repercutidas pelo site da
emissora Deutsche Welle.
Segundo o jornal alemão, um
dos mais respeitados do país, os
banqueiros europeus temem uma
moratória do Brasil, embora nenhum deles diga isso com todas as
letras. O único a declará-lo abertamente ao diário foi Walter Molano, economista do americano
BCB Securities e crítico habitual
da economia brasileira.
Acontece que, comentando a reportagem, o economista David Sekiguchi, estrategista-chefe de mercados emergentes do banco alemão Deutsche Bank, foi além e
disse que a reunião de ontem poderia trazer sinais positivos, mas
que "é muito provável que os bancos não cumpram suas promessas". A declaração foi dada ao site
da emissora alemã.
O mal-estar veio do fato de o
Deutsche Bank ter participado da
reunião de ontem no Fed de Nova
York com Armínio Fraga e Pedro
Malan, e de ter assinado a nota
conjunta ao final da reunião, em
que todos os bancos presentes reiteravam "seu compromisso de
longo prazo" com o Brasil, segundo texto divulgado à imprensa na
tarde de ontem.
Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa do banco alemão
afirmou que a posição oficial é a da
nota assinada pela direção do
Deutsche ao final do encontro de
ontem. Quanto à entrevista dada
antes da reunião por Sekiguchi, o
banco preferiu se calar.
A Folha apurou, no entanto, que
o banco está encarando a entrevista do economista como a posição
de apenas um setor e não da instituição como um todo. "A posição
global, a que vale, é a de ontem",
foi a frase ouvida pelo repórter.
A preocupação dos bancos europeus com a saúde financeira do
Brasil vem do grau de exposição(volume de empréstimos e
aplicações) das instituições financeiras do continente à América Latina, atualmente estimado em US$
311 bilhões, ou 5,1% de todos os
créditos ao exterior, sendo a Espanha o principal investidor e o Brasil o principal receptor.
Os créditos dos bancos espanhóis para a América Latina e para
o Caribe eram de US$ 167 bilhões
em março de 2002, e as empresas
espanholas investiram mais de
62 bilhões na América Latina.
Além disso, o comércio com a região representa 6,6% do comércio
exterior da União Européia.
"Se o Brasil sucumbir, isto traria
muitos problemas para alguns
bancos estrangeiros", disse David
Sekiguchi à emissora alemã.
"Além disso, pressionaria as demais economias da região", avalia
o economista do banco alemão.
Já segundo as declarações de
Molano, do BCB Securities, ao
"Frankfurter", o empréstimo de
US$ 30 bilhões concedido pelo
FMI (Fundo Monetário Internacional) ao Brasil no início de agosto serviria apenas para aliviar os próximos seis meses e no final das contas empurraria a moratória para 2003.
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