São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

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Pessimismo europeu gera mal-estar em NY

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Causaram mal-estar na reunião de ontem em Nova York as declarações sobre o Brasil dadas no último fim de semana por economistas de bancos europeus, publicadas pelo diário econômico "Frankfurter Allgemeine Zeitung" e depois repercutidas pelo site da emissora Deutsche Welle.
Segundo o jornal alemão, um dos mais respeitados do país, os banqueiros europeus temem uma moratória do Brasil, embora nenhum deles diga isso com todas as letras. O único a declará-lo abertamente ao diário foi Walter Molano, economista do americano BCB Securities e crítico habitual da economia brasileira.
Acontece que, comentando a reportagem, o economista David Sekiguchi, estrategista-chefe de mercados emergentes do banco alemão Deutsche Bank, foi além e disse que a reunião de ontem poderia trazer sinais positivos, mas que "é muito provável que os bancos não cumpram suas promessas". A declaração foi dada ao site da emissora alemã.
O mal-estar veio do fato de o Deutsche Bank ter participado da reunião de ontem no Fed de Nova York com Armínio Fraga e Pedro Malan, e de ter assinado a nota conjunta ao final da reunião, em que todos os bancos presentes reiteravam "seu compromisso de longo prazo" com o Brasil, segundo texto divulgado à imprensa na tarde de ontem.
Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa do banco alemão afirmou que a posição oficial é a da nota assinada pela direção do Deutsche ao final do encontro de ontem. Quanto à entrevista dada antes da reunião por Sekiguchi, o banco preferiu se calar.
A Folha apurou, no entanto, que o banco está encarando a entrevista do economista como a posição de apenas um setor e não da instituição como um todo. "A posição global, a que vale, é a de ontem", foi a frase ouvida pelo repórter.
A preocupação dos bancos europeus com a saúde financeira do Brasil vem do grau de exposição(volume de empréstimos e aplicações) das instituições financeiras do continente à América Latina, atualmente estimado em US$ 311 bilhões, ou 5,1% de todos os créditos ao exterior, sendo a Espanha o principal investidor e o Brasil o principal receptor.
Os créditos dos bancos espanhóis para a América Latina e para o Caribe eram de US$ 167 bilhões em março de 2002, e as empresas espanholas investiram mais de 62 bilhões na América Latina. Além disso, o comércio com a região representa 6,6% do comércio exterior da União Européia.
"Se o Brasil sucumbir, isto traria muitos problemas para alguns bancos estrangeiros", disse David Sekiguchi à emissora alemã. "Além disso, pressionaria as demais economias da região", avalia o economista do banco alemão.
Já segundo as declarações de Molano, do BCB Securities, ao "Frankfurter", o empréstimo de US$ 30 bilhões concedido pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) ao Brasil no início de agosto serviria apenas para aliviar os próximos seis meses e no final das contas empurraria a moratória para 2003.


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