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OPINIÃO ECONÔMICA
Financiamento brasileiro
BENJAMIN STEINBRUCH
As turbulências quase insuportáveis que vivemos nos
últimos meses não podem desviar
o foco de nossas atenções daquele
que continua sendo o problema
central da economia brasileira: a
falta de crescimento da produção
e do emprego.
No artigo com o qual saudei
aqui na Folha o Ano Novo, lembrei que o maior desafio brasileiro
não era a Copa do Mundo nem a
eleição presidencial, mas sim devolver a esperança aos brasileiros.
Passada a Copa e em plena campanha eleitoral, continuo com a
mesma convicção. A redução da
miséria, a melhoria da saúde e da
educação e a diminuição das tensões sociais exigem um pensamento fixo no desenvolvimento.
Sabemos há muito tempo que a
anemia econômica por que passa
o país tem origem em um problema estrutural, que é a falta de crédito e o altíssimo custo dos recursos disponíveis. Sem crédito não
há investimentos e sem investimentos não há crescimento da
produção e do emprego.
Volto a esse tema para comentar
uma contribuição valiosa do professor Alberto Borges Matias. Em
análise publicada no anuário
"Valor Financeiro", ele mostrou
que a relação entre o PIB (Produto
Interno Bruto) e o crédito no Brasil é de apenas 28%. Isso significa
que o volume de financiamento
colocado à disposição da produção no país é incrivelmente inferior ao de outros países com os
quais competimos no mercado internacional. Na Espanha e no Canadá, por exemplo, o índice atinge
100% do PIB.
Além de escasso, o crédito é caríssimo. Os gastos das empresas
brasileiras com o pagamento de
juros representam cerca de 9% de
sua receita total, enquanto as
companhias estrangeiras despendem apenas 1%. É óbvio que esse
alto custo está na base do problema do desenvolvimento nacional,
porque inviabiliza os investimentos.
Enquanto o setor produtivo sofre com os juros elevados, o setor
financeiro apresenta altíssimas
taxas de rentabilidade quando
comparadas com as de instituições internacionais. Os bancos nacionais têm rentabilidade média
de 16% do patrimônio em comparação com 11% de seus congêneres
estrangeiros.
É bom para a saúde do sistema
financeiro que os bancos tenham
esse nível de rentabilidade, mas o
estudo do professor Matias mostra
uma saída que poderia permitir
ao mesmo tempo a manutenção
da rentabilidade e o alívio para o
setor produtivo tomador de crédito. Ele mostra que os bancos ganham muito mais dinheiro com o
"spread" cobrado, ou seja, com a
diferença entre o que pagam para
captar recursos e o que cobram
nos empréstimos, do que com o
volume de crédito concedido. O
"spread" médio no Brasil é de 32%
ao ano, contra apenas 11% no exterior. A saída, então, seria o estímulo ao aumento do volume de
crédito.
Certamente, no meio das turbulências atuais, há pouco espaço
para medidas voltadas a esse objetivo. As empresas em geral estão
concentradas na redução desesperada de custos, o que provoca
mais desemprego, e o setor financeiro também vive momentos de
ansiedade com as perspectivas de
curto prazo. Mas isso não deve impedir a análise e a proposição de
medidas para sanear esse problema estrutural do financiamento
brasileiro, principalmente neste
momento em que o país se prepara para eleger um novo governo.
Depois que passarem as turbulências e as eleições, o problema do
crédito interno precisa ser enfrentado com seriedade. Esse não é o
único entrave ao crescimento da
produção e do emprego. Há outros, também importantes, como a
falta de estímulos à exportação e o
alto peso dos impostos sobre a produção. Mas, sem atenção para o
crédito, o país não deixará de patinar.
Benjamin Steinbruch, 49, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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