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OPINIÃO ECONÔMICA
O futuro em aberto
ANTONIO BARROS DE CASTRO
Não é difícil imaginar por
que tanta excitação com a
possível retomada do crescimento. Afinal, há 23 anos não se verifica crescimento sustentado neste
país, o desemprego urbano está
muito elevado e o estado de espírito de amplos segmentos das lideranças empresariais, até ontem, pelo menos, dificilmente poderia ser pior. Não é demais lembrar, além disso, que até muito
recentemente se ouvia dizer que,
sem mudança do "modelo", não
haveria crescimento.
Mas a ansiedade em torno da
possível retomada do crescimento
poderia também ser explicada
por um outro motivo, e é para ele
que pretendo chamar a atenção.
Mudou enormemente, nas últimas décadas, o panorama mundial do crescimento. No passado
(digamos, até a 2ª Guerra Mundial), a maioria das economias
crescia insignificantemente a cada ano e umas poucas atingiam
índices de crescimento considerados elevados: 2% a 4% ao ano. Esta última taxa foi alcançada pelos
EUA no final do século 19, em plena Segunda Revolução Industrial
e com a chegada em massa de
emigrantes da Europa. Recentemente, contudo, surgiram fenômenos completamente novos.
Países crescem a 9%, 10% ao ano,
sendo que essa última cifra implica dobrar o tamanho da economia em sete anos! Diversos têm
atingido 7% (dobrando de tamanho a cada dez anos). E até mesmo a superpotência norte-americana expandiu-se a cerca de 4%
ao ano na segunda metade da década passada.
Mas as novidades não são apenas positivas. A história recente
registra casos de economias que
regrediram 1,5% anualmente durante 10 a 15 anos (o Zaire seria
um caso) e até mesmo de economias que implodiram, como a soviética.
Em resumo, contemporaneamente, o tamanho da economia
passa a ser, literalmente, uma variável.
Até recentemente os economistas não tinham como posicionar-se acerca desses novos fenômenos
-e muito especialmente acerca
dos índices negativos ou, contrariamente, muito elevados de crescimento. Mesmo hoje é muito
pouco o que se sabe a esse respeito. Mas, com o ingresso (imposto,
em certa medida, por esses mesmos eventos) de temas como instituições e transferência de conhecimento para as economia atrasadas, vai se formando um corpo
de conhecimentos úteis. Perduram, no entanto, graves divergências. O espantoso crescimento sul-coreano de 1960 a 1990, por exemplo, foi tratado por Krugman como um caso de acumulação forçada de capital (sem aumento de
produtividade e semelhante ao
ocorrido na URSS) e por Alice
Amsden como um caso exemplar
de assimilação de técnicas e de conhecimento.
Mais recentemente Sanjaya Lal
tratou de mostrar ("The Tecnological Response to Import Liberalization in Sub-Saharan Africa")
que, não tendo logrado assimilar/dominar as modernas tecnologias com que passavam a lidar,
diversas economias da África
(Quênia e Gana entre elas) não
lograram ultrapassar o estágio de
crescimento em que meramente
se aproveitam as vantagens absolutas trazidas pelas novas técnicas.
Como posicionar-se, à luz do
que acaba de ser dito, acerca da
retomada do crescimento que
aparentemente tem início neste
país? Sugiro, para tanto, que o desempenho daqui para diante seja
concebido em três etapas.
A primeira é a da retomada,
que possivelmente já está nas
ruas. Essa fase é em boa medida
automática, uma vez retirada a
tranca dos juros e, com isso, melhoradas as expectativas e desreprimida a demanda, especialmente de bens de consumo duráveis. Ela não supõe ou requer investimentos.
A seguir viria o crescimento -e
aqui teria início um embate entre
os fatores que o realimentam
(crescimento gera crescimento) e
tudo aquilo que emperra a expansão (lança areia nas rodas da
indústria era a velha imagem a
esse respeito). Nessa fase reduz-se
a automaticidade das respostas,
empresários devem basear suas
decisões sobre conjecturas e ganham importância diversas políticas de governo.
A questão da velocidade do
crescimento remete então à terceira questão: a da trajetória de
crescimento. O Brasil já foi tigre
(de 1950 a 1980), enquanto a Índia era uma pacata baleia. Hoje,
a Índia vem crescendo a vistosos
6% ao ano. Que será da economia
brasileira?
Primeiramente, e à luz do que
ocorre no mundo, o leque de possibilidades é amplo. Nada na terceira etapa é automático. Depende da capacidade de adaptar e recriar soluções e conhecimento. De
pouco ou nada servem estatísticas
baseadas em projeções a partir
dos últimos 20 anos, pesadamente influenciados pela incessante
turbulência e a retranca macroeconômica. Também não adianta
supor que seja possível repetir os
anos dourados da montagem do
parque industrial. Naquele tempo
bastava copiar. Agora, se parte de
muito mais alto -e não há um
objetivo óbvio, como a montagem
de um parque industrial moderno. Possivelmente nunca foi tão
necessário construir imagens do
futuro desejado.
Antonio Barros de Castro, 65, professor titular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), escreve às quartas, a cada 15 dias, nesta coluna.
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