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EXPECTATIVA
Paul Volcker diz que, se o Brasil puder abrir mão de um programa do Fundo, será um sinal de estabilidade
Ex-Fed sugere que país deixe "abrigo" do FMI
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Paul Volcker, ex-presidente do
Fed, o Banco Central dos EUA,
afirmou ontem esperar o dia em
que o Brasil ""deixará o abrigo psicológico do FMI". E, embora tenha dito que o país se encontra
distante de uma sensação ""enraizada" de crescimento e estabilidade, disse que a economia parece
ter entrado em um ciclo benéfico.
"O Brasil tem condições de criar
um desenvolvimento sustentado,
sem cometer os mesmos erros do
passado", disse Volcker. "Essa
oportunidade não vai durar para
sempre. É necessário dar continuidade a esforços passados, mas
também evitar erros", completou
o ex-presidente do Fed.
Ele próprio se encarregaria de
apontar o que seria o maior dos
erros: não manter as políticas fiscais restritas -ou seja, sugeriu
que o país siga com superávits
primários e controle de gastos públicos. "Uma forte disciplina fiscal
é essencial para afastar pressões
do mercado e inflação. Facilita a
queda das taxas de juros e o caminho para expansão da economia."
Disciplina fiscal que serviria de
mote para Volcker comentar as
relações do Brasil com o FMI.
"Espero ver o dia em que o país
deixe o abrigo psicológico de um
programa de crédito do Fundo.
[Isso] depende de políticas fiscais
fortes. Seria um sinal de que o país
está preparado para seguir em seu
caminho de estabilidade", afirmou o ex-presidente do Fed, que
se negou a dizer se era necessário
ao governo Lula renovar o atual
acordo, que vence no final do ano.
Aproveitou para fazer elogios à
atual gestão. "É um alívio saber
que o novo governo sabe o que fazer. Os esforços para manutenção
da estabilidade foram aumentados, o país conseguiu superávit
primário maior do que o acertado
com o FMI [a meta era de 4,25%,
mas no primeiro semestre o superávit ficou em 5,41%], a inflação
caiu e o BC reduziu os juros mais
do que o previsto, sem que colocasse em dúvida a estabilidade."
Os comentários de Volcker foram feitos em um evento do Banco Pactual, no qual participaram
o presidente do BC, Henrique
Meirelles, seu antecessor direto,
Armínio Fraga, e o presidente do
BC do México, Guillermo Ortíz.
Volcker presidiu o Fed entre
1979 e 1987. E indiretamente contribuiu para uma das crises da
economia brasileira. Foi sob sua
gestão que os juros dispararam
nos EUA (passando da média de
3,5% para 10% ao ano) a fim de
conter as pressões inflacionárias
no país. A alta dos juros no mercado internacional precipitou a
crise das dívidas externas nos países latino-americanos, que ""quebrou" o México em 1982 e atingiu
em seguida o Brasil.
Na abertura do encontro, o discurso do presidente do BC brasileiro estava em sintonia com o de
Volcker. Meirelles disse que o governo mantém meta de superávit
primário de 4,25% para 2003 e para os anos seguintes. Fraga defendeu que "política monetária só
funciona bem em ambientes com
condições fiscais boas".
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