São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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EM TRANSE

Nos EUA, analistas de bancos criticam falta de "fatos concretos" em fala do ministro, que responde duramente

Mercado é ignorante e ganancioso, diz Malan

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O ministro Pedro Malan (Fazenda) disse ontem que "uma ganância infecciosa", "um medo infeccioso" e "uma ignorância" do mercado financeiro explicam a reação exagerada dos bancos -refletida na depreciação do real- em relação ao Brasil.
O discurso duro de Malan foi em resposta a comentários e perguntas críticas feitas ao ministro brasileiro por analistas de bancos estrangeiros, em um seminário promovido em Washington pelo Banco Mundial. O economista para mercados emergentes do Deustche Bank, Leonardo Leiderman, disse que o mercado não vai reagir somente "a promessas", mas a fatos concretos.
Ele se referiu aos anúncios feitos pelos quatros candidatos à Presidência, que se comprometeram a respeitar aspectos econômicos previstos no acordo do Brasil com Fundo Monetário Internacional. O compromisso assumido pelos candidatos tem sido um dos principais argumentos usados por Malan no exterior para tentar desfazer a preocupação de banqueiros e investidores quanto ao futuro do país. Leiderman acrescentou que o mercado reage "somente a fatos". "Tem algo que aprendi há muitos anos, que os mercados são dirigidos por uma combinação de ganância, às vezes uma ganância infecciosa, como nos disse o senhor Alan Greenspan [presidente do Fed, o banco central americano"; pelo medo, às vezes por um medo contagioso, como estamos observando agora; e ignorância, nunca uma ignorância contagiosa, apenas, felizmente, um pequeno nível de ignorância, porque existem analistas muito sofisticados entre os participantes do mercado", disse Malan.
Na opinião de Leiderman, que considera a Colômbia mais "amigável" para receber investimentos do que o Brasil, para haver mais tranquilidade no mercado brasileiro após as eleições, é preciso "não só estabilizar a relação dívida/PIB [Produto Interno Bruto" mas também melhorar esse indicador", ou seja, tornar a proporção da dívida menor em relação à capacidade do país de gerar riqueza. Pelos dados de julho, a dívida chegou a 62% do PIB.
O analista do banco suíço UBS Warburg, Michael Gavin, também afirmou que a dinâmica da dívida brasileira em relação ao PIB é preocupante.


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