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OPINIÃO ECONÔMICA
A política econômica do PT
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
O grande favoritismo de Lula na corrida presidencial de
outubro próximo está provocando um verdadeiro terremoto nos
mercados financeiros. Os melhores exemplos dessa situação de
instabilidade ocorrem nos mercados de câmbio e de títulos de nossa dívida externa. A cotação do
real em relação ao dólar chegou a
níveis irracionais, nos últimos
dias. Essa desvalorização acelerada ocorre em razão de arbitragens com nossos títulos negociados no exterior, que estão sendo
vendidos com enormes descontos
por bancos internacionais assustados com o Brasil, e da especulação com uma eventual moratória
externa.
Neste período de nervosismo a
grande questão, que mobiliza a
atenção dos agentes econômicos,
passou a ser a especulação sobre a
política econômica do novo governo. O mercado quer conhecer
seus detalhes e os nomes que irão
compor uma possível equipe de
Lula presidente. Em recente entrevista ao jornal "O Estado de
S.Paulo", o candidato de oposição
negou qualquer possibilidade de
uma equipe econômica de transição, esperada até agora por alguns analistas, que incorporaria
alguns técnicos ligados ao governo atual. Lula reafirmou que vai
trabalhar com uma equipe puro-sangue petista.
Essa é uma pista importante. O
governo do PT terá uma política
econômica que vai refletir a sua
visão de mundo e suas idéias sobre o que seja uma economia de
mercado, em um país com as características do Brasil. Sinaliza
que vai promover uma guinada
de 180, em relação aos anos FHC.
Durante a entrevista a "O Estado
de S.Paulo", liberto dos controles
artificiais de Duda Mendonça,
Lula expressou de maneira muito
clara suas idéias sobre economia.
Para um analista atento, as palavras do candidato foram reveladoras sobre os novos tempos, que
estão para vir. E mostraram que a
política do "senta que o leão é
manso", adotada em relação aos
mercados -no mesmo dia da entrevista de Lula, seu provável ministro da Fazenda fazia um discurso conciliador com grandes
bancos e investidores-, é falsa.
Peço licença para fazer algumas
divagações sobre as relações entre
o que se chama de teoria econômica e a política econômica de
um governo no poder. Essa discussão é fundamental para entender o desenho da política econômica de Lula presidente. A teoria econômica representa o conjunto de idéias e princípios sobre
o funcionamento de um sistema
econômico de um determinado
grupo de pessoas ou de um partido político. São as chamadas escolas de pensamento econômico.
A ciência econômica, no seu início apenas um conjunto de valores ligados ao comportamento
humano, evoluiu muito a partir
da segunda metade do século passado. Hoje ela trabalha com conceitos macroeconômicos precisos
e com modelos quantitativos sofisticados, que permitem entender
de forma mais científica o funcionamento das economias de mercado modernas. Com isso, o espaço para a existência de diferentes
escolas de pensamento econômico
diminuiu muito, e as divergências
que caracterizam as relações entre os economistas passaram para
o nível do que estamos chamando
aqui de política econômica. Não
são os conceitos mais gerais da
teoria econômica que dividem os
debates, mas a leitura das dificuldades encontradas na sua aplicação em um mundo imperfeito e
que apresenta distorções graves
em relação ao modelo puro considerado na teoria.
Na hipótese da vitória de Lula,
a mudança na condução de nossa
economia será radical, como já
disse. A escola de pensamento
econômico que servirá de base
para a ação do novo governo é
outra, e seus princípios teóricos
estão em oposição aos que têm
determinado as políticas econômicas, dos últimos anos. Ela pode
ser chamada de pós-keynesiana,
apareceu na Inglaterra depois da
Segunda Guerra Mundial e representa um dos braços em que o
pensamento de Keynes dividiu-se
depois de sua morte. A outra vertente desenvolveu-se nos EUA à
mesma época e representou a escola dominante nesse país, até a
crise inflacionária dos anos 60. A
escola inglesa, que chamava seus
colegas americanos de "keynesianos bastardos", nunca foi testada
realmente, apesar de ter sido importante na introdução da questão das deficiências dos mercados, como fatores de instabilidade
econômica. Sua marca principal é
a leitura radical que tem das instabilidades sistêmicas inerentes
às economias de livre mercado e
da necessidade de uma interferência continua e abrangente do
Estado para corrigi-las.
No Brasil, essa corrente radical
do pensamento keynesiano está
representada pelo Instituto de
Economia da Unicamp, em Campinas. Sua participação mais importante deu-se no governo Sarney, durante o período em que o
falecido Dilson Funaro foi o ministro da Fazenda. Dividiram durante dois anos a responsabilidade pela política econômica do primeiro governo, depois de nossa
redemocratização, em 1984, com
a primeira geração de economistas da PUC-RJ. O Plano Cruzado
e o início da modernização da
institucionalidade fiscal e monetária do Brasil são os fatos mais
marcantes desse período.
Agora, com a vitória do PT, se
ela ocorrer, essa escola será hegemônica, e certamente a política
econômica do novo governo vai
refletir suas idéias principais. Para quem tem interesse em aprofundar essa possibilidade, sugiro
a leitura de um pequeno mas interessante livro chamado "Controversies in Post Keynesian Economics", de Paul Davidson, publicado por Edward Elgar Publishing Limited, England.
Voltarei a esse assunto proximamente.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 59, engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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