São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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LUÍS NASSIF

A queda da vulnerabilidade externa

Economista do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), Fábio Giambiagi chama a atenção para um fato positivo, ainda não assimilado pelo mercado internacional: a vulnerabilidade externa brasileira poderá estar superada no prazo máximo de dois anos.
Até agosto, o déficit em conta corrente brasileiro, em 12 meses, estava em US$ 15,2 bilhões, basicamente reduzido em razão do bom desempenho da balança comercial. Em setembro do ano passado o superávit comercial brasileiro foi de US$ 600 milhões, contra mais de US$ 2 bilhões em setembro de 2002. Significa uma redução de quase US$ 1,5 bilhão no déficit em conta corrente, que terminaria o mês na faixa de US$ 14 bilhões. Em outubro, novembro e dezembro de 2001 os superávits comerciais foram, respectivamente, de US$ 250 milhões, US$ 300 milhões e US$ 850 milhões.
Para o próximo trimestre, os saldos deverão ser substancialmente maiores, em comparação com o ano passado, com exceção de dezembro. Por isso, mantidos inalterados os demais fatores, muito provavelmente o ano terminará com um déficit em conta corrente da ordem de US$ 13 bilhões. Com o PIB em US$ 450 bilhões, o déficit estará em menos de 3%.
Com a economia mundial melhorando um pouco, a atividade interna ainda travada, o câmbio médio melhor do que em 2001 e a economia Argentina melhorando um pouco, pode-se apostar em um superávit comercial melhor ainda em 2003, talvez na faixa de US$ 12 bilhões a US$ 13 bilhões, embora sem o salto ocorrido em 2002. Ou seja, o governo terá dado uma volta de 360 ao levar de volta o país ao superávit comercial anual que recebeu em 1994.
Em 2003 ainda se terá crédito externo escasso, por conta das mudanças políticas no país e do quadro de guerra internacional. O dinheiro do FMI servirá para a travessia. Para 2004, à medida que vá caindo a ficha da comunidade financeira internacional e que o novo governo garanta a consistência das metas macroeconômicas, é possível que a vulnerabilidade externa seja ultrapassada. Ou antes disso, à medida que o mercado internacional se dê conta da magnitude do ajuste efetuado.

Cambiais
O dólar tem reagido à decisão do Banco Central de não rolar os títulos cambiais que estão vencendo. Ontem, o diretor de Política Monetária da instituição, Luiz Fernando Figueiredo, anunciou a rolagem parcial dos cambiais, no próximo vencimento. Há que tomar cuidado. Se os cambiais forem rolados às taxas de juros atuais -câmbio mais 30%-, o impacto negativo será muito maior do que a pressão do mercado sobre o dólar, sem a rolagem.
É preferível segurar os nervos agora, não comprometer o custo da dívida cambial e procurar atuar no câmbio depois de passadas as eleições.

E-mail - LNassif@uol.com.br


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