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EM TRANSE
Em brinde ao presidente argentino, FHC critica interesses financeiros
Mercado quer afetar eleição e não é sempre idôneo, diz FHC
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que
a disparada do preço do dólar e
do risco-país nos últimos dias se
deve a um "jogo de interesses" de
especuladores. FHC questionou a
idoneidade de "consultores e operadores de mercado" que estariam interferindo na "continuidade democrática" do país.
"Nada justifica as absurdas variações cambiais dos últimos dias
e tampouco o aumento sem precedentes do famigerado risco-país", disse o presidente, fazendo
referência às eleições no Brasil e
na Argentina. Ele discursou durante o "brinde" ao presidente argentino Eduardo Duhalde, ontem
em Brasília.
Nesta semana, o dólar chegou a
superar R$ 3,80 na terça-feira e fechou a R$ 3,78. Ontem ficou em
R$ 3,76. Além disso, o risco-país
-que mede a confiança dos investidores sobre a capacidade de
um país de honrar suas dívidas-
voltou a superar 2.000 pontos.
"É como se a continuidade democrática em nossos países, pela
qual tanto lutamos, ficasse agora
sujeita a avaliações supostamente
idôneas de consultores e operadores de mercado", afirmou FHC.
"O que determina o rumo de
um país é a vontade soberana de
seu povo, queiram ou não os especuladores. Quando se olha a situação real da economia, fica evidente que esses fenômenos são
resultados apenas de jogo de interesses, interesses que não são os
de nossos países, que não são os
de nossos povos", disse FHC.
FHC também aproveitou para
criticar o abandono da Argentina
pelos organismos internacionais:
"Infelizmente, o apoio da comunidade internacional tem sido tímido. Os organismos financeiros
ainda não fizeram tudo o que podiam para ajudar a Argentina."
Para o presidente os dois países
devem mostrar ao mundo que
acreditam em si. "Só quem acredita em si merece o respeito dos
demais", disse.
No caso brasileiro, a alta do dólar e atribuída, entre outros fatores, ao fato de o Banco Central ter
anunciado que iria recomprar títulos com variação cambial que
venceram na última quarta-feira.
Com isso, o mercado financeiro
pressionou para elevar a cotação
do dólar médio de terça-feira,
usado como referência do resgate
dos títulos.
Além disso, o mercado financeiro atribuiu essas turbulências ao
fato de pesquisas eleitorais indicarem a possibilidade de o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
que lidera a corrida presidencial,
ganhar as eleições para a Presidência da República já no primeiro turno.
As operações feitas pelos bancos para elevar a cotação do dólar
foram analisadas pelo Banco Central, que disse não ter encontrado
nenhuma operação "esquisita",
que indicasse manipulação.
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