São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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EM TRANSE

Em brinde ao presidente argentino, FHC critica interesses financeiros

Mercado quer afetar eleição e não é sempre idôneo, diz FHC

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que a disparada do preço do dólar e do risco-país nos últimos dias se deve a um "jogo de interesses" de especuladores. FHC questionou a idoneidade de "consultores e operadores de mercado" que estariam interferindo na "continuidade democrática" do país.
"Nada justifica as absurdas variações cambiais dos últimos dias e tampouco o aumento sem precedentes do famigerado risco-país", disse o presidente, fazendo referência às eleições no Brasil e na Argentina. Ele discursou durante o "brinde" ao presidente argentino Eduardo Duhalde, ontem em Brasília.
Nesta semana, o dólar chegou a superar R$ 3,80 na terça-feira e fechou a R$ 3,78. Ontem ficou em R$ 3,76. Além disso, o risco-país -que mede a confiança dos investidores sobre a capacidade de um país de honrar suas dívidas- voltou a superar 2.000 pontos.
"É como se a continuidade democrática em nossos países, pela qual tanto lutamos, ficasse agora sujeita a avaliações supostamente idôneas de consultores e operadores de mercado", afirmou FHC.
"O que determina o rumo de um país é a vontade soberana de seu povo, queiram ou não os especuladores. Quando se olha a situação real da economia, fica evidente que esses fenômenos são resultados apenas de jogo de interesses, interesses que não são os de nossos países, que não são os de nossos povos", disse FHC.
FHC também aproveitou para criticar o abandono da Argentina pelos organismos internacionais: "Infelizmente, o apoio da comunidade internacional tem sido tímido. Os organismos financeiros ainda não fizeram tudo o que podiam para ajudar a Argentina."
Para o presidente os dois países devem mostrar ao mundo que acreditam em si. "Só quem acredita em si merece o respeito dos demais", disse.
No caso brasileiro, a alta do dólar e atribuída, entre outros fatores, ao fato de o Banco Central ter anunciado que iria recomprar títulos com variação cambial que venceram na última quarta-feira. Com isso, o mercado financeiro pressionou para elevar a cotação do dólar médio de terça-feira, usado como referência do resgate dos títulos.
Além disso, o mercado financeiro atribuiu essas turbulências ao fato de pesquisas eleitorais indicarem a possibilidade de o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera a corrida presidencial, ganhar as eleições para a Presidência da República já no primeiro turno.
As operações feitas pelos bancos para elevar a cotação do dólar foram analisadas pelo Banco Central, que disse não ter encontrado nenhuma operação "esquisita", que indicasse manipulação.


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