São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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Brasil é principal foco de contágio na América Latina, diz agência

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A atual crise da economia brasileira é o principal responsável pelo contágio das economias dos países da América Latina. A conclusão é de relatório especial elaborado pela agência classificadora de risco Fitch e divulgado ontem.
Intitulado "Contágio: Quais Mercados Emergentes São Mais Vulneráveis?", o levantamento faz o ranking de 26 economias emergentes de acordo com sua vulnerabilidade ao contágio financeiro. Estão fora da classificação Argentina, Brasil e Turquia, que são apontados como os principais difusores do contágio.
Todos os países da América Latina que recebem classificações da Fitch ficaram nas duas primeiras categorias, "vulnerabilidade alta" ou "vulnerabilidade moderada". Entre os dez primeiros colocados, seis são países da região, liderados por Colômbia, Uruguai, Venezuela, Panamá, México e El Salvador.
O relatório exclui do contágio brasileiro apenas dois países sul-americanos, Chile e Peru, que estão em melhor situação econômica e com menos exposição à crise do Brasil. Completam a lista dos mais vulneráveis Líbano, Tunísia, Ucrânia e Romênia, que estariam expostos à crise turca.
Na categoria "vulnerabilidade mínima" aparecem os países emergentes asiáticos, avaliados pela empresa como mais capacitados a absorver choques externos devido a seus fortes balanços patrimoniais externos. Na mesma categoria comparecem Rússia e Bulgária, apontados como regiões com boa liqüidez externa.
Para os economistas Roger M. Scher e Morgan C. Harting, a primazia do Brasil como principal difusor de contágio advém da exposição dos investidores internacionais e dos bancos, que é maior no país, e do fato de bancos espanhóis e norte-americanos que investiram pesadamente no país serem também os maiores credores do restante da América Latina, principalmente do México.

Critérios
Vários itens compõem o critério de classificação de vulnerabilidade, entre eles: a adequação das reservas internacionais e dos mercados financeiros domésticos; a suscetibilidade do país a mudanças de sentimento do investidor, tanto no mercado de dívida quanto entre os grandes bancos internacionais; e a comparação com seus pares regionais.
Entre as conclusões gerais do relatório está a que a capacidade dos mercados emergentes de absorver choques é maior do que em 1997. Isso porque, em conjunto, os países cobertos pela classificação têm reservas internacionais oficiais de cerca de US$ 732 bilhões, contra US$ 467 bilhões de pagamentos de dívida externa -incluindo aí a dívida de curto prazo- com vencimento para o ano que vem.
Isso não ocorria na crise financeira de seis anos atrás, quando as reservas somavam US$ 480 bilhões e a dívida externa vencendo em 1998 batia os US$ 490 bilhões. Mesmo assim, a América Latina apresenta situação preocupante, pois a maior parte do superávit das reservas dos países apontados pelo relatório de ontem se encontra nos países da Ásia.


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