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São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2003

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CONTAS EXTERNAS

Aquisições, que seriam de US$ 2,2 bi neste ano, sobem para US$ 5,6 bi; medida deve ter impacto no dólar

Tesouro aumenta intervenção no câmbio

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Tesouro Nacional vai elevar a compra de dólares no mercado, o que pode vir a pressionar a cotação da moeda norte-americana. Segundo o governo, as aquisições são destinadas ao pagamento de parte de juros e de parcelas da dívida externa. Mas a medida pode ser interpretada como uma espécie de intervenção no câmbio, para evitar uma desvalorização acentuada do dólar -o que prejudicaria as exportações.
A meta de compras anunciada pelo Banco Central para este ano era de US$ 2,2 bilhões. Os novos números anunciados pelo BC são de US$ 5,640 bilhões em 2003 -dos quais US$ 4,950 bilhões já foram comprados- e de US$ 5 bilhões em 2004. O BC informou também que a compra de parte desses US$ 5 bilhões poderá ser antecipada para o último trimestre deste ano.
Os vencimentos totalizam US$ 10,980 bilhões neste ano e US$ 11,785 bilhões no ano que vem.
Nos últimos dois meses, o Tesouro Nacional intensificou suas intervenções no câmbio. Desde agosto, comprou US$ 2,1 bilhões no mercado, o que pode ter colaborado para pressionar a cotação da moeda dos EUA.
No primeiro semestre -quando a cotação da moeda norte-americana se encontrava em patamares mais elevados-, o Tesouro comprou, em média, cerca de US$ 100 milhões por mês.
Em geral, os pagamentos da dívida externa são feitos com os dólares que estão depositados nas reservas internacionais do país. Como essas reservas estão chegando a níveis muito baixos, o Tesouro decidiu, no começo deste ano, comprar uma parte dos dólares diretamente no mercado.
O diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, afirmou que as medidas têm por objetivo "aproveitar as condições mais favoráveis do mercado". O dólar, que iniciou o ano a R$ 3,535, fechou ontem a R$ 2,935. Bevilaqua não quis comentar o efeito que essa atuação mais intensa do Tesouro no câmbio possa ter tido sobre o dólar nas últimas semanas.
A decisão do Tesouro reflete a preocupação do governo com o nível das reservas internacionais. Descontados os recursos emprestados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), as reservas brasileiras estão em US$ 18 bilhões. Nos anos 90, esse valor chegou a superar os US$ 60 bilhões.
Em geral, o governo compra dólares por meio do BC, e não do Tesouro. Pelas normas que regulam o funcionamento do mercado, porém, o BC é obrigado a informar ao público, no mesmo dia, quando realiza alguma transação dessa natureza. O Tesouro não é obrigado. Logo, pode comprar dólares sem que o mercado saiba.
Uma intervenção feita pelo BC poderia ter um "efeito psicológico" diferente e ser interpretada pelos investidores como uma tentativa do governo de fixar um piso para a cotação do dólar. Nesse caso, a reação poderia ser mais forte, e a moeda dos EUA tenderia a se valorizar muito mais do que o desejado pelo governo.
Analistas dizem que uma valorização excessiva do real pode prejudicar as exportações, colocando em risco o equilíbrio das contas externas. Ao comprar dólares no mercado por meio do Tesouro, o governo consegue recursos para recompor as reservas internacionais e evita uma disparada do dólar que poderia ser causada por uma intervenção do BC.
Se, por um lado, um real valorizado prejudica as exportações, o inverso também tem efeitos negativos: um dólar forte significaria mais pressão sobre a inflação, o que, a exemplo do que houve no ano passado, poderia obrigar o BC a elevar os juros para manter o controle sobre os preços.


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