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CONTAS EXTERNAS
Aquisições, que seriam de US$ 2,2 bi neste ano, sobem para US$ 5,6 bi; medida deve ter impacto no dólar
Tesouro aumenta intervenção no câmbio
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Tesouro Nacional vai elevar a
compra de dólares no mercado, o
que pode vir a pressionar a cotação da moeda norte-americana.
Segundo o governo, as aquisições
são destinadas ao pagamento de
parte de juros e de parcelas da dívida externa. Mas a medida pode
ser interpretada como uma espécie de intervenção no câmbio, para evitar uma desvalorização
acentuada do dólar -o que prejudicaria as exportações.
A meta de compras anunciada
pelo Banco Central para este ano
era de US$ 2,2 bilhões. Os novos
números anunciados pelo BC são
de US$ 5,640 bilhões em 2003
-dos quais US$ 4,950 bilhões já
foram comprados- e de US$ 5
bilhões em 2004. O BC informou
também que a compra de parte
desses US$ 5 bilhões poderá ser
antecipada para o último trimestre deste ano.
Os vencimentos totalizam US$
10,980 bilhões neste ano e US$
11,785 bilhões no ano que vem.
Nos últimos dois meses, o Tesouro Nacional intensificou suas
intervenções no câmbio. Desde
agosto, comprou US$ 2,1 bilhões
no mercado, o que pode ter colaborado para pressionar a cotação
da moeda dos EUA.
No primeiro semestre -quando a cotação da moeda norte-americana se encontrava em patamares mais elevados-, o Tesouro comprou, em média, cerca
de US$ 100 milhões por mês.
Em geral, os pagamentos da dívida externa são feitos com os dólares que estão depositados nas
reservas internacionais do país.
Como essas reservas estão chegando a níveis muito baixos, o Tesouro decidiu, no começo deste
ano, comprar uma parte dos dólares diretamente no mercado.
O diretor de Política Econômica
do BC, Afonso Bevilaqua, afirmou
que as medidas têm por objetivo
"aproveitar as condições mais favoráveis do mercado". O dólar,
que iniciou o ano a R$ 3,535, fechou ontem a R$ 2,935. Bevilaqua
não quis comentar o efeito que essa atuação mais intensa do Tesouro no câmbio possa ter tido sobre
o dólar nas últimas semanas.
A decisão do Tesouro reflete a
preocupação do governo com o
nível das reservas internacionais.
Descontados os recursos emprestados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), as reservas
brasileiras estão em US$ 18 bilhões. Nos anos 90, esse valor chegou a superar os US$ 60 bilhões.
Em geral, o governo compra dólares por meio do BC, e não do Tesouro. Pelas normas que regulam
o funcionamento do mercado,
porém, o BC é obrigado a informar ao público, no mesmo dia,
quando realiza alguma transação
dessa natureza. O Tesouro não é
obrigado. Logo, pode comprar
dólares sem que o mercado saiba.
Uma intervenção feita pelo BC
poderia ter um "efeito psicológico" diferente e ser interpretada
pelos investidores como uma tentativa do governo de fixar um piso
para a cotação do dólar. Nesse caso, a reação poderia ser mais forte,
e a moeda dos EUA tenderia a se
valorizar muito mais do que o desejado pelo governo.
Analistas dizem que uma valorização excessiva do real pode
prejudicar as exportações, colocando em risco o equilíbrio das
contas externas. Ao comprar dólares no mercado por meio do Tesouro, o governo consegue recursos para recompor as reservas internacionais e evita uma disparada do dólar que poderia ser causada por uma intervenção do BC.
Se, por um lado, um real valorizado prejudica as exportações, o
inverso também tem efeitos negativos: um dólar forte significaria
mais pressão sobre a inflação, o
que, a exemplo do que houve no
ano passado, poderia obrigar o
BC a elevar os juros para manter o
controle sobre os preços.
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