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Fragilidade externa ameaça expansão
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O país poderá retomar em 2004
um ritmo de crescimento próximo de 3,5% ao ano, mas estará sujeito a uma espécie de "morte súbita" a partir de 2006 se não amenizar o que economistas chamam
de "vulnerabilidade externa" -a
dependência de capitais estrangeiros de curto prazo que podem
deixar o país da noite para o dia ao
menor sinal de instabilidade.
Essa ameaça foi bastante reduzida neste ano em consequência
do superávit recorde da balança
comercial. O resultado deve diminuir a quase zero o déficit nas
transações correntes do Brasil,
conta que registra a entrada e a
saída de dólares do país, incluindo o pagamento de dívidas.
O problema voltará com a reativação da economia e da demanda
interna, que deve aumentar as importações e diminuir as exportações, com a consequente elevação
do buraco nas transações correntes, que terá de ser coberto com
capitais internacionais.
Desde a metade da década de
90, o desequilíbrio externo provocou uma sucessão de crises, que
inviabilizaram trajetórias de crescimento sustentado. O PIB viveu
aos soluços, intercalando períodos de expansão com outros de
baixo crescimento ou estagnação.
Para economistas, o filme pode
se repetir dentro de cerca de dois
anos se não houver um esforço
para reduzir a vulnerabilidade externa. "O ano que vem tem de ser
o do dever de casa", diz Luís Suzigan, da LCA Consultores.
Diferentes receitas
As receitas para mudar a situação não são consensuais. Alguns
economistas propõem o aumento
das exportações e a substituição
de importações em setores-chave.
Outros defendem maior abertura
comercial, com elevação tanto das
exportações como das importações. Nos dois casos, a meta é ampliar a receita em dólares.
Para este ano, os economistas
esperam um saldo comercial positivo próximo de US$ 20 bilhões.
No próximo ano, ele será reduzido para algo entre US$ 16 bilhões
e US$ 18 bilhões. Em 2005, o encolhimento seria ainda maior, o que
acende a luz amarela para 2006.
"Quando a economia começar a
crescer, muitas empresas que estão exportando com margem de
lucro pequena passarão a vender
no mercado interno", prevê Luiz
Gonzaga Belluzzo, professor titular de economia da Unicamp.
Márcio Garcia, professor de
economia da PUC-RJ, ressalta
que a vulnerabilidade externa é
algo latente, que pode ou não se
manifestar, dependendo da ocorrência de turbulências externas.
Ele está entre os defensores do aumento global do fluxo de comércio, que elevaria a capacidade do
país de absorver choques.
Para Belluzzo, a vulnerabilidade
externa é a maior pedra no caminho do crescimento sustentado.
As crises cambiais de 1999 e
2002, por exemplo, foram provocadas pela fuga de capitais que
ajudavam a fechar o déficit das
transações correntes. Com a revoada de recursos, o país foi obrigado a desvalorizar sua moeda,
com o objetivo de elevar as exportações e obter dólares para cobrir
o buraco. Como a desvalorização
provocou pressões inflacionárias,
o governo elevou os juros e a economia se retraiu. Essa lógica se repete em todas as crises externas.
Menos pessimista do que Belluzzo, Antonio Barros de Castro,
professor titular da UFRJ, acredita que crises externas poderão ser
evitadas se o governo adotar uma
política industrial que privilegie
as exportações e a conquista de
mercados.
Fábio Silveira, da MB Associados, aponta a "atávica" dependência do Brasil da importação de
insumos de alto valor agregado
como indício de que poderá haver
uma nova crise cambial a partir
de 2006. "Se crescermos por dois
anos, a importação desses insumos vai pressionar a balança comercial", afirma Silveira. Ele e Belluzzo propõem a substituição de
importações como uma das saídas para o problema.
Tanto Belluzzo quanto Castro
defendem a manutenção do câmbio em patamares que garantam a
competitividade das exportações.
Para o professor da Unicamp, isso
significa um dólar bem mais caro
que os atuais R$ 3. O real desvalorizado reduz o preço dos produtos brasileiros em dólar, o que estimula as vendas externas.
Mas a desvalorização é quase
sempre acompanhada da pressão
sobre os preços. Para evitar a alta
dos juros, Belluzzo sugere a flexibilização das metas de inflação do
BC. "Vivemos uma antinomia entre inflação e juros, de um lado, e
redução da vulnerabilidade externa de outro."
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