São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 2006

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Indústria vê cartel no frete marítimo

Ciesp vai encaminhar à SDE pedido de abertura de processo por suposto reajuste de preços combinado entre empresas

Transportadoras negam formação de cartel e dizem que precariedade dos portos brasileiros explica o aumento do frete


Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Contêineres no porto do Rio; empresas dizem que portos precários justificam aumento do frete


FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) vai encaminhar nesta semana à SDE (Secretaria de Direito Econômico), ligada ao Ministério da Justiça, pedido de abertura de um processo administrativo para apurar suspeita de formação de cartel de empresas multinacionais que operam frete marítimo no Brasil.
Empresários que exportam e importam suspeitam que pelo menos quatro empresas - Hamburg Sud, Hapag-Lloyd, MSC e CSAV- teriam combinado aumentos de preços para o próximo dia 1º de outubro.
As operadoras negam que tenham agido em conjunto.
Cartas enviadas pelas quatro operadoras de transporte marítimo aos empresários informam que, a partir de outubro, os embarques de carga dos portos brasileiros vão custar US$ 200 mais para contêiner de 20 pés (seis metros) e US$ 400 mais para contêiner de 40 pés.
Nos cálculos do Ciesp, o reajuste foi d 18% em dólar -existem algumas diferenças de preços entre as empresas. Em junho e em julho, já tinham elevado preços em torno de 12%.
"Está claro que essas empresas formaram um cartel. Não faz sentido aumentar 18% em dólar o preço do frete quando a cotação do petróleo está em queda, é pura ganância", diz Humberto Barbato, diretor de comércio exterior do Ciesp.
"Com o real mais desvalorizado, ainda dá para suportar aumentos. Agora não dá. Vamos ter de repassar os reajustes para os clientes e correr o risco de perder mercado no exterior", diz Barbato.
O Brasil praticamente não dispõe de operadoras de transporte marítimo, e o mercado é dominado por empresas estrangeiras. A estimativa é que elas movimentam cerca de US$ 5 bilhões anuais entre exportações e importações. Algumas delas possuem escritórios no país. Outras, só representantes.
"Toda a política de preços é comandada do exterior. Se a demanda sobe, elas se aproveitam da situação e elevam os preços", diz Barbato. "Vamos solicitar uma investigação o mais rapidamente possível."
Nas cartas encaminhadas aos clientes, as empresas informam que os reajustes ocorrerão devido aos aumentos de custos. O principal, dizem, é a falta estrutura dos portos.
"Há alguns meses, os portos brasileiros apresentam sérias limitações operacionais decorrentes de greves, freqüentes ocorrências de mau tempo e profundidade limitada nos canais de acesso aos terminais. Como conseqüência, temos terminais portuários congestionados, que provocam atrasos na atracação dos navios, gerando custos insuportáveis ao armador", informa carta da alemã Hamburg Sud.
Julian Thomas, diretor-superintendente da Hamburg Sud no Brasil, informa que os custos da empresa subiram 30% em dólar e os preços do frete caíram 30% em dólar desde meados de 2005 até agora.
"As exportações não subiram como se previa e falta infra-estrutura nos portos. A necessidade era, na verdade, de um reajuste de 60%. Mas nós vamos negociar os aumentos com cada cliente", afirma.
Luís Carlos Galvão, diretor titular do Departamento Jurídico do Ciesp, diz que os empresários vão "utilizar todas as armas à disposição" para não pagar os reajustes.
"Não vamos perder contratos de exportação. Os preços do frete marítimo precisam permanecer em níveis razoáveis para que possamos manter nossos contratos", diz Galvão.
As queixas contra os aumentos de preços do frete marítimo, segundo informa Galvão, vêm principalmente das indústrias de café, autopeças, madeira e papel, além de exportadores de carnes e de frango.


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