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INDICADORES
De 1990 a 1998 crescimento acumulado deve ficar em 17,5%, contra 29,3% em igual período aos anos 80
PIB cresce menos que na "década perdida'
ANDRÉ SOLIANI
da Reportagem Local
O Brasil vai crescer menos nos
anos 90 que nos anos 80, a chamada "década perdida".
Entre 1990 e 1998, o PIB (total
das riquezas produzidas) deve aumentar 17,5%, se o Brasil crescer
1% em 98, segundo a Fundação
Getúlio Vargas. No mesmo período dos anos 80, cresceu 29,3%.
A taxa de crescimento, porém,
não é suficiente para caracterizar
os 90 como anos perdidos, segundo seis economistas, de diferentes
posições ideológicas, consultados
pela Folha. Segundo eles, é preciso
avaliar a capacidade de crescimento futuro da economia, após as reformas econômicas e institucionais do anos 90.
O resultado da atual crise dirá se
o sacrifício terá sido em vão, e,
portanto, essa será mais uma "década perdida".
Caso seja garantida a estabilidade da economia e corrigido o déficit público, os resultados econômicos medíocres do período serão
um custo para garantir a volta do
crescimento sustentável, diz o
ex-ministro Roberto Campos.
"Se tudo der errado, serão mais
dez anos perdidos", completa o
ex-ministro Mailson da Nóbrega.
"A sociedade terá arcado com os
custos, sem colher os benefícios."
Na opinião dos analistas, uma
coisa é certa: os anos 90 devem ser
definidos como um período de
transição para o Brasil. Um modelo de economia fechada, baseado
na intervenção estatal, foi substituído por um modelo aberto, baseado na iniciativa privada.
Balanço da década
Para o economista da Unicamp
Márcio Pochmann, desde a década de 80 o país não consegue resolver seus problemas econômicos, como o déficit público, e retomar o crescimento.
Segundo ele, entre 1960 e 1980 o
Brasil crescia em média 7,4% ao
ano. Desde então, o crescimento
médio tem sido de 1,9%. O mesmo
aconteceu com a renda média, que
de 4,5% ao ano passou para 0,2%.
Campos afirma que a década de
90 só começou de fato depois do
Real, em 1994. A partir desse ano,
o PIB da economia voltou a crescer a taxas mais altas, em média,
3,42%. Inferiores, porém, aos melhores cinco anos da década passada: 3,68% de 84 a 88.
A renda média do trabalhador
também teve ganhos após o Real.
Segundo Pochmann, atingiu seu
pico em 96, com 3,26 salários mínimos (os dados de 97 não estão
disponíveis). Porém, desde 1980 o
trabalhador teve sua maior renda
em 1986: 3,55 salários mínimos.
A distribuição de renda também
melhorou após o Real, mas apenas
atingiu o patamar de 86, diz o economista da USP Paulo Yokota.
O desemprego, por outro lado,
vive seu pior momento no Real e
deve piorar, segundo Sérgio Mendonça, diretor do Dieese. Segundo
o IBGE, está em 8,02%.
Outro grande perda nos 90 é a
capacidade exportadora do país,
segundo o economista Yokota.
Em 1980, o Brasil chegou a participar com 1,46% do comércio internacional. Hoje a participação brasileira é de 0,97%. "Perdemos
mercado", diz ele.
Para Pochmann, o Plano Real
melhorou os indicadores econômicos da década de 90, mas apenas os equiparou aos melhores
anos da década anterior.
A taxa de investimento, por
exemplo, que serve como medida
da expansão da capacidade futura
de produção de um país, voltou a
crescer depois do Real, mas ainda
está abaixo da dos anos 80.
No Real, porém, o Brasil conquistou o controle da inflação,
que se mantido justifica os esforços, segundo os economistas consultados. No final dos anos 80, a
inflação chegou a quase 700% ao
ano e, antes do Real, já era de mais
de 2.400% ao ano. Para este ano, a
Fipe estima inflação de 0,5%.
Mas a estabilidade ainda não está concluída, segundo o próprio
governo. A dependência brasileira
do capital externo em um ambiente internacional hostil ao financiamento e os insistentes déficits públicos são as principais fragilidades do país, afirma o economista
da Unicamp Aloizio Mercadante.
Mas, para comparar os 80 com
os 90, Nóbrega afirma ser preciso
levar em conta os avanços sociais e
a abertura da economia. "Olhar
apenas os indicadores econômicos pode levar à conclusão de que
esta é a "década perdida".
Foi este ano, por exemplo, que o
Brasil entrou pela primeira vez no
grupo considerado de alto nível de
desenvolvimento humano, segundo um indicador da ONU.
O que preocupa Yokota, entretanto, é o cenário para o próximo
ano: recessão. "A década não foi
das melhores até agora, e vamos
precisar de mais sacrifícios para
garantir a estabilidade em 99."
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