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Para emprego, os anos 90 são piores
da Reportagem Local
A década de 90 é a pior da história brasileira para o emprego, avaliam os economistas consultados
pela Folha.
"Para o trabalhador, essa é a década perdida", diz Márcio Pochmann, da Unicamp.
A taxa média de desemprego em
98 será a mais alta da história da
pesquisa do IBGE, que começou
em 83, segundo especialistas. Até
julho, a média anual está em
8,06%.
"E não há nenhuma razão para
achar que as coisas vão melhorar
até o final do ano", diz Sérgio
Mendonça, do Dieese. A alta de juros e o corte no gasto do governo
devem manter o desemprego no
mesmo patamar.
Para Aloizio Mercadante, o desemprego no Brasil sofre um problema estrutural. "Pela primeira
vez, a economia cresce sem gerar
empregos na mesma proporção."
Segundo Pochmann, entre 1945
e 1990, em média, para cada 1% de
crescimento do PIB o número de
empregos crescia 0,4%. Nos anos
90, para cada 1% de crescimento o
emprego aumenta apenas 0,1%.
Isso significa que o esforço de
crescimento precisa ser maior do
que antes para absorver a mesma
quantidade de mão-de-obra.
Hoje, cerca de 1,4 milhão de pessoas ingressam no mercado de trabalho por ano, segundo dados do
IBGE. Para manter a mesma taxa
de desemprego, absorvendo esse
novo contingente de trabalhadores, o Brasil precisa crescer cerca
de 6% ao ano, estima Pochmann.
Isso se a relação entre crescimento do PIB e geração de emprego for a mesma do período
pós-guerra. Caso seja mantida a
média da década de 90, é preciso
crescer 10% ao ano.
Além da maior dificuldade de
criar empregos, a qualidade do
trabalho caiu na década de 90, segundo o economista da Unicamp.
Entre 89 e 97, o país perdeu 2,5
milhões de empregos com carteira
assinada, estima Pochmann.
"Hoje existem 23 milhões de trabalhadores com carteira, o mesmo
número de 1980."
Nesse mesmo período a população apta ao trabalho cresceu cerca
2,4% ao ano, chegando hoje a
aproximadamente 70 milhões.
Diminuindo o desemprego
Crescer não é única solução para
o desemprego. Melhorar a renda
do trabalhador pode diminuir o
número de pessoas que procuram
emprego, diz Pochmann.
Nesse caso, para uma família se
sustentar, menos pessoas precisariam estar no mercado de trabalho. Na França, por exemplo, de
cada 100 jovens entre 15 e 24 anos,
79 não precisam trabalhar e só estudam. No Brasil essa proporção é
de 40 jovens para cada 100, de
acordo com o economista, o que
pressiona o mercado de trabalho.
Hoje, calcula Pochmann, 5,1 milhões de aposentados e pensionistas procuram trabalho. "Se ganhassem mais, não precisariam
complementar a renda", diz
Pochmann.
Mais 2,9 milhões de crianças
com menos de 14 anos também
engordam o mercado de trabalho
para complementar a renda familiar, afirma o economista.
(ANDRÉ SOLIANI)
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