São Paulo, domingo, 27 de setembro de 1998

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Para emprego, os anos 90 são piores

da Reportagem Local

A década de 90 é a pior da história brasileira para o emprego, avaliam os economistas consultados pela Folha.
"Para o trabalhador, essa é a década perdida", diz Márcio Pochmann, da Unicamp.
A taxa média de desemprego em 98 será a mais alta da história da pesquisa do IBGE, que começou em 83, segundo especialistas. Até julho, a média anual está em 8,06%.
"E não há nenhuma razão para achar que as coisas vão melhorar até o final do ano", diz Sérgio Mendonça, do Dieese. A alta de juros e o corte no gasto do governo devem manter o desemprego no mesmo patamar.
Para Aloizio Mercadante, o desemprego no Brasil sofre um problema estrutural. "Pela primeira vez, a economia cresce sem gerar empregos na mesma proporção."
Segundo Pochmann, entre 1945 e 1990, em média, para cada 1% de crescimento do PIB o número de empregos crescia 0,4%. Nos anos 90, para cada 1% de crescimento o emprego aumenta apenas 0,1%.
Isso significa que o esforço de crescimento precisa ser maior do que antes para absorver a mesma quantidade de mão-de-obra.
Hoje, cerca de 1,4 milhão de pessoas ingressam no mercado de trabalho por ano, segundo dados do IBGE. Para manter a mesma taxa de desemprego, absorvendo esse novo contingente de trabalhadores, o Brasil precisa crescer cerca de 6% ao ano, estima Pochmann.
Isso se a relação entre crescimento do PIB e geração de emprego for a mesma do período pós-guerra. Caso seja mantida a média da década de 90, é preciso crescer 10% ao ano.
Além da maior dificuldade de criar empregos, a qualidade do trabalho caiu na década de 90, segundo o economista da Unicamp.
Entre 89 e 97, o país perdeu 2,5 milhões de empregos com carteira assinada, estima Pochmann. "Hoje existem 23 milhões de trabalhadores com carteira, o mesmo número de 1980."
Nesse mesmo período a população apta ao trabalho cresceu cerca 2,4% ao ano, chegando hoje a aproximadamente 70 milhões.

Diminuindo o desemprego
Crescer não é única solução para o desemprego. Melhorar a renda do trabalhador pode diminuir o número de pessoas que procuram emprego, diz Pochmann.
Nesse caso, para uma família se sustentar, menos pessoas precisariam estar no mercado de trabalho. Na França, por exemplo, de cada 100 jovens entre 15 e 24 anos, 79 não precisam trabalhar e só estudam. No Brasil essa proporção é de 40 jovens para cada 100, de acordo com o economista, o que pressiona o mercado de trabalho.
Hoje, calcula Pochmann, 5,1 milhões de aposentados e pensionistas procuram trabalho. "Se ganhassem mais, não precisariam complementar a renda", diz Pochmann.
Mais 2,9 milhões de crianças com menos de 14 anos também engordam o mercado de trabalho para complementar a renda familiar, afirma o economista.
(ANDRÉ SOLIANI)



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