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FINANÇAS
Projeto do governo prevê isenção da contribuição na transferência de investimentos, o que facilitará a troca de instituições
Bancos temem maior concorrência sem CPMF
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O projeto do governo de eliminar a incidência da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) em algumas transferências entre aplicações financeiras deve provocar
uma reviravolta no mercado.
A Folha apurou que o anúncio
feito na semana passada causou
inquietação no setor bancário. A
expectativa de analistas e do Ministério da Fazenda é que investidores não hesitarão mais em deixar um banco quando a relação
entre as taxas de administração e
o rendimento oferecido pelo investimento não for satisfatória.
Hoje a mudança é desestimulada pela perda que o investidor terá com o pagamento da CPMF.
A cobrança da contribuição já
influenciou as decisões de investimento de Adriana Azevedo, arte-finalista da agência Ace Propaganda. "Quis mudar de um fundo
do Itaú para outro do Maxblue
que, no momento, tinha melhor
performance, mas cheguei à conclusão de que com a cobrança de
CPMF a troca não valeria a pena."
Há casos mais extremos como o
do investidor Eugênio Feu Rosa
que, simplesmente, não aplica dinheiro em fundos de renda fixa
por causa do pedágio da CPMF.
Hoje em dia, Feu Rosa, que já foi
professor primário, vive de administrar seu próprio dinheiro. Investe em títulos públicos, via Tesouro Direto, na Bolsa de Valores
de São Paulo e na BM&F (Bolsa
de Mercadorias e Futuros).
"Geralmente, economizo a
CPMF porque nas Bolsas posso
dar os próprios títulos do Tesouro
como garantia. Posso movimentar os títulos quantas vezes quiser
e não pago CPMF. Se usasse dinheiro, pagaria a cada vez que
transitasse pela conta corrente."
Feu Rosa explica que, para aplicar em fundos de renda fixa, não
teria alternativa: cada vez que quisesse sair ou entrar de volta nessas
aplicações, pagaria o tributo.
"Para mim, a isenção da CPMF
em transferência entre aplicações
seria ótima. Eu ganharia liberdade para ampliar meu leque de investimentos", afirma.
Levantamento da Folha com
base em dados do site Fortuna revela que as taxas de administração anuais variam de 0,25% a
13,5% nos populares fundos DI,
embora a sua mediana (média
que elimina as maiores variações)
seja de 3%. O mesmo ocorre nos
fundos de renda fixa que têm taxa
mediana de 3% ao ano, mas com
extremos entre 0,45% e 8%.
A pesquisa considerou apenas
os chamados FACs (que aplicam
em outros fundos) que não fossem exclusivos, cuja aplicação inicial mínima chegasse até R$ 5.000
e estivessem com captação aberta.
"Uma taxa mediana de 3% para
fundos DI, que não exigem grande esforço de gestão, é muito alta.
A tendência é que com a eliminação da CPMF nas transferências
entre fundos o cliente fique mais
exigente e as taxas, de forma geral,
caiam", afirma Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna.
Com a isenção da CPMF -prevista para transferências entre
fundos de renda fixa e de ações,
poupança, títulos públicos e privados, derivativos e clubes de investimento-, a competição no
setor bancário deve se acirrar.
Essa é a expectativa da própria
Febraban (Federação Brasileira
dos Bancos). Para Roberto Troster, economista-chefe da instituição, hoje ocorrem discrepâncias
em taxas de administração, por
exemplo, porque a cobrança da
CPMF abre brechas para ineficiências no mercado.
"Com a eliminação do tributo, a
tendência é que o investidor possa
levar mais em conta a relação entre o custo cobrado pelo banco e o
retorno da aplicação", diz Troster.
Ele espera que a competição mais
acirrada provoque um movimento de redução média das taxas.
Em benefício próprio
Os investidores não deverão ser
os únicos beneficiados pela mudança na regra tributária. O próprio governo tende a lucrar com a
isenção da CPMF. Segundo analistas, com a queda nas taxas de
juros, a tendência é que diminua o
incentivo para aplicações em títulos públicos. "Essa também é uma
forma de incentivar os investidores a manter aplicações em, por
exemplo, fundos de renda fixa
que aplicam em títulos públicos",
afirma Hélio França, professor do
Ibmec no Rio de Janeiro.
Segundo França, o custo de investimentos no Brasil ainda é alto
e, com a queda dos juros, seu peso
aumenta. "Se o governo não fizer
algo, a tendência é haver forte migração de investimentos para o
consumo. Isso é ruim porque o
país precisa aumentar a poupança
interna e porque representa
ameaça ao controle da inflação".
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