São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Taxa média vai de 43,9% para 45,1% entre agosto e setembro; consumidor deve pagar mais no Natal, prevê BC

Juro bancário sobe pela 1ª vez desde março

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A taxa média de juros cobrada pelos bancos passou de 43,9% ao ano para 45,1%, entre agosto e setembro, segundo pesquisa do Banco Central. Foi a primeira vez desde março que o levantamento indicou alta nas taxas praticadas pelas instituições financeiras.
A alta ocorreu antes mesmo da mais recente elevação da Selic (taxa básica), que passou neste mês de 16,25% para 16,75% ao ano.
Por isso, o próprio BC estima que a tendência é que os juros cobrados pelos bancos continuem subindo. Os consumidores devem enfrentar taxas mais altas nas suas compras de Natal neste ano.
Dados preliminares apurados pelo BC mostram que os juros bancários já haviam subido para 45,9% ao ano, em média, nas primeiras duas semanas deste mês.
Dada essa tendência, as compras a prazo devem ficar mais caras no Natal. "Provavelmente, o que vai se observar é isso", disse ontem o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
O setor varejista diz que não vai elevar os juros. Temendo afugentar clientes, o comércio quer manter inalteradas as taxas, pelo menos até o início de 2005.
Nas modalidades de crédito para pessoas físicas, os juros do crediário foram os que mais subiram entre agosto e setembro: passaram de 58,8% ao ano para 60,6%. Ainda assim, Lopes afirmou não acreditar que a alta dos juros prejudique as vendas do comércio neste final de ano.
A elevação dos juros ocorrida em setembro, segundo Lopes, é conseqüência da alta do dólar no mercado futuro, o que teria afetado os empréstimos corrigidos pelo câmbio que são concedidos a empresas. Nessa modalidade, as taxas cobradas passaram de 18,6% ao ano para 22,0% entre agosto e setembro.

"Spread"
Foi em setembro que o BC elevou a Selic pela primeira vez desde o início de 2003. Como a decisão foi anunciada apenas no fim do mês, o seu impacto nas taxas cobradas pelos bancos no período foi reduzido e só começou a aparecer com mais força em outubro.
Influenciado pela Selic, o custo de captação dos bancos é a principal causa da recente elevação dos juros bancários. O chamado "spread" bancário -diferença entre os juros pagos pelos bancos para captar recursos e a taxa efetivamente cobrada dos clientes- permaneceu praticamente estável entre agosto e setembro, ao passar de 27,5 pontos percentuais para 27,7 pontos no período.
Isso significa que, em setembro, 27,7 pontos percentuais dos juros médios de 45,7% ao ano ficaram com os bancos, que usaram a diferença para cobrir custos e para compor sua margem de lucro.
Apesar dos juros mais elevados, o volume de crédito oferecido pelos bancos continua crescendo. No mês passado, o total de empréstimos concedidos pelo sistema financeiro somou R$ 460,294 bilhões -ou 26,3% do PIB (Produto Interno Bruto).
A inadimplência, por sua vez, registrou uma pequena alta. No mês passado, 7,5% dos empréstimos bancários estavam com parcelas atrasadas por, pelo menos, 15 dias. Em agosto, essa proporção estava em 7,2%.
Segundo Lopes, esse movimento se deve à greve dos bancários que durou cerca de um mês. "Foi um período em que as famílias não tiveram acesso à rede bancária para quitar seus compromissos", disse. Entre pessoas físicas, a inadimplência subiu de 12,8% para 13,3% entre agosto e setembro.


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