São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RECEITA ORTODOXA

Comércio tentará evitar repasse da alta da Selic para os preços, no curto prazo, para preservar vendas de Natal

Grandes redes planejam "amortecer" juros

DA REPORTAGEM LOCAL

A elevação da taxa básica de juros da economia, a Selic, não deve ter impacto nos juros cobrados dos consumidores pelas grandes redes de lojas. Magazine Luiza, Casas Bahia, Ponto Frio, Lojas Cem e rede Extra não vão mexer nas taxas -pelo menos neste mês. O Banco Central subiu os juros na semana passada.
As redes de lojas temem que uma alta dos juros neste momento tenha um efeito negativo sobre as intenções de compra dos consumidores neste final do ano. O Natal é tradicionalmente o melhor período de vendas.
"Estamos absorvendo o aumento na Selic com os olhos voltados para o Natal. Daqui para a frente acompanharemos a forma com que o mercado vai se posicionar e aguardar a reunião da equipe econômica em novembro", diz Eliane Aleixo Lustosa, diretora financeira do Ponto Frio.
No próximo mês, o Copom (Comitê de Política Monetária) volta a se reunir para decidir se eleva ou não as taxas. Na semana passada, a alta foi de 0,5 ponto percentual. A taxa básica de juros da economia está em 16,75% ao mês.
Na avaliação da executiva, se as condições atuais se mantiverem e se novos aumentos não ocorrerem, é possível que um aumento nas taxas não ocorra neste ano. Pelas contas de algumas redes de comércio, cada vez que há um anúncio de alta, o impacto da notícia para o consumidor provoca uma queda em torno de 5% nas vendas, dias após o comunicado.
A rede de lojas Magazine Luiza, com 252 lojas, informa que não mexe nos juros cobrados dos consumidores mesmo que a ata do Copom (a ser divulgada nesta semana) dê a entender que a taxa básica de juros da economia vai continuar subindo.
A empresa reduziu os juros de maio do ano passado até maio deste ano, segundo informa a sua assessoria de imprensa. Quando o Copom elevou os juros, invertendo a tendência de queda, a rede parou de mexer nas taxas, que hoje variam de 1,9% a 4,9% ao mês, nos prazos de financiamento que se estendem até 18 meses.
Com 388 pontos-de-venda, a Casas Bahia também não pretende elevar os juros por enquanto, segundo informa a sua assessoria de imprensa. Michael Klein, diretor da cadeia varejista, já informou que essa questão ficou para ser debatida novamente no próximo mês. A rede definiu a sua política de compra e venda para o final do ano e pretende manter sua estratégia de promoções, afirma. Isso significa, na prática, cobrar juros menores e conceder mais prazo de financiamento para alguns produtos, que são escolhidos semanalmente.
A Casas Bahia cobra em média 5,9% por mês nas compras financiadas. No caso de alguns produtos, essa taxa cai para 3,5% ao mês, como para os itens eletroeletrônicos. Na linha de móveis, a rede chega a vender em até 20 vezes sem juros. A Casas Bahia estima faturar R$ 8 bilhões neste ano, dos quais R$ 1 bilhão em dezembro. No ano passado, a receita da empresa foi da ordem de R$ 6 bilhões. Na rede Extra, as taxas também foram mantidas.
Segundo o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o aumento do custo do crédito em setembro foi sentido sobretudo nos financiamentos a pessoas jurídicas, para as quais a taxa de juros cobrada passou de 28,8% para 30,4% ao mês, em média. No caso das pessoas físicas, a variação foi de somente 0,2 ponto, finalizando o mês com uma taxa estável em 63,2%.
(ADRIANA MATTOS E FÁTIMA FERNANDES)


Texto Anterior: Juro bancário sobe pela 1ª vez desde março
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.