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POLÊMICA
Banco privado também é alvo
Lessa critica AmBev e ex-dirigentes do BNDES
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento),
Carlos Lessa, acionou ontem sua
metralhadora giratória: atacou os
sócios da AmBev por terem se associado à belga Interbrew e criticou os economistas Pérsio Arida,
Edmar Bacha, André Lara Resende (pais do Real e ex-presidentes
do banco estatal) e Edward Amadeo, ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso.
Os economistas foram criticados por relacionarem o baixo nível de investimento no país com o
monopólio do BNDES no uso de
recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Lessa disse
ainda que os bancos privados têm
"ódio" do banco estatal pelo fato
de sua gestão ter decidido afastá-los das intermediações de recursos para as grandes empresas.
Irritado, Lessa disse temer que
grandes grupos nacionais "copiem" o modelo de internacionalização da AmBev, que trocou
ações com a belga Interbrew e
participará do capital de uma nova empresa, sediada na Bélgica.
Disse que ao menos oito conglomerados nacionais têm porte para fazer negócios desse tipo e que
tem informações de alguns interessados em se associar a estrangeiros. Ele não relevou nomes.
"Essas empresas [Brahma e Antarctica, que formam a AmBev] já
tomaram mais de 700 financiamento do BNDES de 1960 a 2000",
disse. Apesar de não citar nomes,
ele criticou os três controladores
da AmBev, que são Marcel Telles,
Jorge Paulo Lemann e Carlos Alberto Sicupira. "Nós ajudamos
esses três rapazes a serem as
maiores fortunas do país. Mas esses três senhores se converteram
em três belgas de sucesso."
Tal movimento de internacionalização, segundo Lessa, não
produz desenvolvimento no Brasil. "Do ponto de vista deles, perfeito. Do ponto de vista do Brasil,
é uma porcaria de negócio", disse
ele, que participou de seminário
promovido pelo banco sobre Arranjos Produtivos Locais, no Rio.
Procurada pela Folha, a AmBev
disse que não se pronunciaria.
Sobre Bacha, Arida e Resende, o
presidente do BNDES considerou
equivocada a posição dos três,
manifestada em artigos recentes,
de relacionar o baixo nível de investimento na economia brasileira ao fato de o banco estatal e a
Caixa Econômica Federal terem
acesso exclusivo aos recursos do
FAT e do FGTS, respectivamente.
A idéia do trio, segundo Lessa, é
que, se existisse competição na
distribuição desses recursos, as
taxas de juros seriam menores. O
dinheiro do FAT já é emprestado
pelo BNDES a taxas referenciadas
pela TJLP, hoje em 9,75% ao ano.
Para Lessa, isso é um erro, pois
o banco estatal perderia a oportunidade de definir projetos e setores prioritários. Em 31 de dezembro de 2003, o saldo de recursos
do FAT destinados ao BNDES era
de R$ 64 bilhões. Procurado pela
Folha, Bacha disse que não iria
comentar as declarações. Arida e
Resende não foram localizados.
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