São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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POLÊMICA

Banco privado também é alvo

Lessa critica AmBev e ex-dirigentes do BNDES

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento), Carlos Lessa, acionou ontem sua metralhadora giratória: atacou os sócios da AmBev por terem se associado à belga Interbrew e criticou os economistas Pérsio Arida, Edmar Bacha, André Lara Resende (pais do Real e ex-presidentes do banco estatal) e Edward Amadeo, ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso.
Os economistas foram criticados por relacionarem o baixo nível de investimento no país com o monopólio do BNDES no uso de recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Lessa disse ainda que os bancos privados têm "ódio" do banco estatal pelo fato de sua gestão ter decidido afastá-los das intermediações de recursos para as grandes empresas.
Irritado, Lessa disse temer que grandes grupos nacionais "copiem" o modelo de internacionalização da AmBev, que trocou ações com a belga Interbrew e participará do capital de uma nova empresa, sediada na Bélgica. Disse que ao menos oito conglomerados nacionais têm porte para fazer negócios desse tipo e que tem informações de alguns interessados em se associar a estrangeiros. Ele não relevou nomes.
"Essas empresas [Brahma e Antarctica, que formam a AmBev] já tomaram mais de 700 financiamento do BNDES de 1960 a 2000", disse. Apesar de não citar nomes, ele criticou os três controladores da AmBev, que são Marcel Telles, Jorge Paulo Lemann e Carlos Alberto Sicupira. "Nós ajudamos esses três rapazes a serem as maiores fortunas do país. Mas esses três senhores se converteram em três belgas de sucesso."
Tal movimento de internacionalização, segundo Lessa, não produz desenvolvimento no Brasil. "Do ponto de vista deles, perfeito. Do ponto de vista do Brasil, é uma porcaria de negócio", disse ele, que participou de seminário promovido pelo banco sobre Arranjos Produtivos Locais, no Rio. Procurada pela Folha, a AmBev disse que não se pronunciaria.
Sobre Bacha, Arida e Resende, o presidente do BNDES considerou equivocada a posição dos três, manifestada em artigos recentes, de relacionar o baixo nível de investimento na economia brasileira ao fato de o banco estatal e a Caixa Econômica Federal terem acesso exclusivo aos recursos do FAT e do FGTS, respectivamente.
A idéia do trio, segundo Lessa, é que, se existisse competição na distribuição desses recursos, as taxas de juros seriam menores. O dinheiro do FAT já é emprestado pelo BNDES a taxas referenciadas pela TJLP, hoje em 9,75% ao ano.
Para Lessa, isso é um erro, pois o banco estatal perderia a oportunidade de definir projetos e setores prioritários. Em 31 de dezembro de 2003, o saldo de recursos do FAT destinados ao BNDES era de R$ 64 bilhões. Procurado pela Folha, Bacha disse que não iria comentar as declarações. Arida e Resende não foram localizados.


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