São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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Meirelles rebate crítica em discurso

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, aproveitou ontem a cerimônia de posse do novo diretor de Política Monetária do BC, Rodrigo Azevedo, para rebater as críticas que tem recebido nos últimos dias devido ao aumento de juros promovido na semana passada.
No discurso de boas-vindas a Azevedo, Meirelles disse que o BC precisa ter "capacidade de manter a serenidade em meio a uma tempestade de críticas passionais que, de tempos em tempos, se abatem sobre a instituição".
Além disso, Meirelles afirmou que as decisões tomadas pelo BC se referem a "temas de alta qualificação técnica". "Aqui não há espaço para a improvisação", disse. Em seu discurso, Meirelles fez várias referências às diferença entre o "trabalho" e a "paixão".
"Trabalho e paixão são, muitas vezes, incompatíveis. Trabalho gera resultados. A paixão, tão importante como motivação para que se cumpra nosso dever, no entanto, gera desejos. Uma distância, às vezes, grande separa os resultados dos desejos."
Questionado após a cerimônia por jornalistas, Meirelles não quis identificar os autores das "críticas passionais". "Vocês [jornalistas] têm toda a qualificação para fazer a análise", disse.
O BC foi alvo de várias críticas depois que, na semana passada, elevou os juros básicos da economia em meio ponto percentual, fixando a taxa Selic em 16,75% ao ano. Mesmo dentro da equipe econômica, a decisão foi criticada por causa do impacto negativo que tem tanto sobre o crescimento da economia quanto sobre a dívida pública.
Meirelles afirmou que "a cobrança é absolutamente normal e legítima" e que "cabe a cada um, em sua função específica, saber como atender a cobrança".
O presidente do BC não quis fazer comentários sobre as críticas da economista Maria da Conceição Tavares, que, anteontem, classificou de "débeis mentais" e "ignorantes" os membros da diretoria do BC. Meirelles disse não ter tido conhecimento sobre essas declarações.
Já Azevedo, em seu discurso de posse, evitou polêmicas e, depois de agradecer a presença de sua família no evento, afirmou que o "grande compromisso" do BC é com o cumprimento das metas de inflação. Ele não quis comentar as decisões recentes do BC. "É muito cedo para falar em taxas de juros. Eu nem participei da última reunião do Copom [Comitê de Política Monetária do BC]."
Azevedo substituiu Luiz Augusto Candiota, que deixou o cargo em julho, após denúncias de que teria enviado irregularmente recursos para o exterior. Afonso Bevilaqua ocupava interinamente a diretoria até a semana passada.


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