São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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Gigante mundial não deverá forçar concentração no país, diz especialista

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A criação de um novo gigante mundial do aço, anunciado anteontem pelo grupo indiano Mittal Steel, não deverá exigir uma concentração do setor siderúrgico brasileiro, a médio prazo, para fazer frente à concorrência, segundo especialistas.
Uma consolidação da indústria siderúrgica poderia até ser danosa para os consumidores locais de seus produtos, alertam os analistas. Os fabricantes de linha branca e as montadoras já vivem às turras com as siderúrgicas por conta dos aumentos de preços.
O professor Germano Mendes de Paula, da Universidade Federal de Uberlândia, especialista em siderurgia, diz que há uma tendência mundial à concentração do setor, mas lembra que já houve uma rodada de consolidação no país, nos anos 90. "O único segmento em que ainda há alguma pulverização é o de aços planos comuns."
Essa tendência global, por si só, não indica que seja necessário criar uma nova Siderbrás, pública ou privada, diz Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios.
A concentração em uma única grande empresa sob controle do capital nacional é a visão que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem do futuro do setor no país. "O Brasil não pode se tornar um centro de custos das empresas globais", afirma Darc Costa, vice-presidente do banco.
Hoje, diz Costa, o país exporta placas de aço que são laminadas no exterior, agregando valor ao produto, e o diferencial de preço fica com os concorrentes. Na sua opinião, se for mantido esse padrão, o país perderá competitividade internacional.
Mas mesmo os dirigentes do banco não vêem necessidade, nem viabilidade, de que ocorra um processo de fusão de empresas no curto ou médio prazos. "O objetivo [do BNDES] é ampliar a capacidade da siderurgia local, mas sob controle nacional, como forma de preservar a acumulação de capital no país", diz Costa.

Competitividade
Segundo Frischtak, a siderurgia brasileira já é competitiva mundialmente. "Nosso problema é menos de escala e mais de tamanho do setor", diz ele.
Com capacidade de produção de 34 milhões de toneladas/ano, o setor siderúrgico brasileiro é pequeno ante os gigantes globais. O país responde por apenas 3% da capacidade mundial de produção da siderurgia.
Só o megagrupo recém-criado com a aquisição da americana ISG pela indiana Ispat terá capacidade para cerca de 60 milhões de toneladas/ano de aço.
Segundo ele, os esforços do país devem se concentrar em dobrar a capacidade instalada até o final da década e em buscar contratos de longo prazo no exterior.
Frischtak defende que esse processo se dê estimulando o investimento privado e por meio de parcerias com grupos internacionais. "Essas parcerias no investimento nos garantiriam canais de distribuição no mundo", observa.


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