São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 2009

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ALBERT FISHLOW

País do Ano


Apesar da questão dos direitos humanos, a China é minha escolha, ainda que o Brasil tenha chegado perto

À MEDIDA que o Ano Novo se aproxima, diversas organizações começam a distribuir seus prêmios de "Homem do Ano". A revista "Time" escolheu Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve. O jornal espanhol "El País" reservou a mesma honraria a Lula.
E temos também os grupos especializados, como os entusiastas do vinho, as empresas de marketing e relações públicas, as associações marítimas etc., todos fazendo suas escolhas.
A Fifa e outras federações esportivas escolhem cada qual o seu "jogador do ano". Mas, e quanto ao "País do Ano"? Uma busca rápida no Google revela que nunca houve um prêmio como esse no passado, ainda que para ter certeza quanto a isso fosse necessário vasculhar 870 milhões de retornos.
A China é minha escolha, ainda que o Brasil tenha certamente chegado bem perto. Felizmente, uma das virtudes da seleção anual é a chance de tentar de novo no ano seguinte. Com o Banco Central prevendo crescimento de quase 6% em 2010 e uma eleição presidencial disputada a caminho, o Brasil já exibe poderosas credenciais.
Por que a China? Do lado positivo, existe o forte crescimento econômico que o país registrou neste ano. Pouca gente previa a expansão que seria de fato atingida, superior a 8% e agora em aceleração. Tanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) como o Banco Mundial, meses atrás, previam crescimento mais próximo de 6%, e algumas outras projeções eram ainda mais pessimistas.
O segredo do sucesso não é mistério. A China ampliou seus gastos internos para que o investimento compensasse o declínio nas exportações. Essa é a vantagem de ter um índice de poupança superior a 40%.
Uma política como essa ajudou a reforçar a recuperação na Ásia e serviu como importante elemento de estabilização em um mundo ainda abalado pelo medo de uma nova Grande Depressão.
Internacionalmente, a China também emergiu como força poderosa. Seu compromisso para com as importações de commodities, minerais e petróleo resultou em aumentos de preços, ao longo do ano e para o futuro. Isso, e o crescente investimento internacional do país, a ajudaram a conquistar estatura entre as nações em desenvolvimento.
E o mesmo vale para a disposição da China em resistir aos Estados Unidos.
Quer a questão seja o Irã, o aquecimento global, a taxa de câmbio vinculada ao dólar ou os subsídios à exportação, a China se provou capaz de definir e defender seus interesses. Ocasionalmente, as consequências indiretas dessas e de outras ações sobre os países em desenvolvimento são negativas, mas pouca gente parece perceber, ou se incomodar.
Lastimavelmente, o histórico da China quanto aos direitos humanos lhe vale pontos negativos. O Tibete, o caso dos uigures e, no momento, o julgamento de Liu Xiabao, depois de um ano de detenção, são apenas alguns exemplos proeminentes. Em um mundo no qual a China agora conta mais e mais, essas infrações estão sendo deixadas de lado, à espera de um futuro no qual as circunstâncias externas possam mudar.
Primeiro surgiram os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). Agora, depois da Conferência de Copenhague, surgiram os países Basic, com a África do Sul substituindo a Rússia.
Trata-se de antigos "países do futuro" que se tornam cada vez mais presentes. A interação entre eles agora influencia o mundo. E, entre todos, a China merece o prêmio de "País do Ano" de 2009.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

ALBERT FISHLOW, 73, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.

afishlow@uol.com.br



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