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EM TRANSE
Para secretário de Política Econômica, Brasil está preparado para a guerra
Ajuste reduz fragilidade, diz Lisboa
Leo Pinheiro - 11.nov.02/"Valor"
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O secretário de Política Econômica da Fazenda, Marcos Lisboa |
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Desde a sexta-feira passada, o
mundo parou diante da ameaça
de guerra no Oriente Médio. As
Bolsas despencaram, o dólar no
Brasil voltou para a casa dos
R$ 3,60 e o risco-país superou a
marca dos 1.400 pontos.
Para o secretário de Política
Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, 38, o mundo está diante de uma nova crise,
e o Brasil não estará fora dela.
Diante desse cenário, a única alternativa do governo, no curto
prazo, para enfrentar essa grave
crise, é o ajuste fiscal. "Não há
muito a ser feito no curto prazo,
só mesmo o ajuste fiscal", afirmou.
Lisboa, considerado o principal
formulador de política econômica da equipe do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, afirma
também que o novo governo encontrou as contas fiscais do país
numa situação de fragilidade.
O governo Fernando Henrique
Cardoso, segundo Marcos Lisboa,
se descuidou do aspecto fiscal,
principalmente no primeiro
mandato.
Folha - Como o sr. analisa essa crise iniciada na sexta-feira passada?
Marcos Lisboa - A economia internacional sofreu graves abalos
desde a semana passada, com
quedas significativas das principais Bolsas e a desvalorização das
moedas dos nossos vizinhos na
América Latina. Houve, inclusive,
uma forte desvalorização cambial
do real na sexta-feira.
Folha - A economia brasileira está
preparada para uma guerra?
Lisboa - A economia está preparada para a guerra. Não ocorreu
redução dos fluxos externos, e as
medidas que já foram adotadas e
as fiscais que serão anunciadas
deixarão claro que estamos preparados para as eventuais dificuldades externas. Desde o primeiro
dia de governo, o ministro Palocci
tem deixado clara a necessidade
de um ajuste sólido e de qualidade
das contas públicas de modo a reduzir nossa vulnerabilidade. A regra tem sido trabalhar sempre
com cenários diversos, inclusive
com cenários externos pessimistas, de forma a estarmos preparados para qualquer dificuldade.
A ameaça de guerra já está presente há algum tempo, assim como a possibilidade de recessão
nos países europeus. O ano passado foi um ano bastante difícil.
Além dos problemas conjunturais, herdamos uma elevada relação dívida/PIB, com uma estrutura de dívida concentrada em títulos de curto prazo. Por isso mesmo, temos trabalhado para retirar
a economia brasileira das armadilhas que marcaram o último governo.
Folha - Que armadilhas são essas?
Lisboa - O governo Fernando
Henrique Cardoso conviveu com
desequilíbrios fiscais durante seu
primeiro mandato, sendo esses
desequilíbrios, além da condução
da política monetária naquele período, os responsáveis em parte
pela atual dívida pública. No segundo mandato houve uma certa
melhora das contas públicas, mas
que foi obtida via receitas temporárias ou extraordinárias, o que
fragiliza a economia a médio prazo. Como diz o ministro Palocci, é
preciso desarmar essas armadilhas, o que significa contas públicas equilibradas tanto no curto
prazo como no médio e no longo
prazos, com qualidade tanto das
receitas quanto dos gastos. E qualidade significa boa previsão de
receitas, fontes estáveis de recursos, prioridade nos gastos. A prioridade do governo são os gastos
sociais. O ajuste das contas públicas tem como objetivo tornar
nossa economia sólida para eventuais choques externos e garantir
que nossa retomada de crescimento econômico não mais seja
afetada pelos humores externos.
O governo FHC nos deixou uma
herança difícil. Houve descuido,
principalmente no primeiro
mandato.
Folha - O Brasil vai precisar aprofundar o ajuste fiscal?
Lisboa - Nós já tínhamos uma
perspectiva de guerra e preparamos o ajuste a ser anunciado pelo
ministro Palocci com essa perspectiva. Nós já estávamos vivendo, há algum tempo, a crônica de
crise anunciada.
Folha - Haverá necessidade de
mais dinheiro do FMI?
Lisboa - Como o ministro Palocci tem afirmado, estamos trabalhando para não mais precisarmos de recursos do FMI.
Folha - Acelerar as reformas não
seria uma alternativa?
Lisboa - As reformas estão na ordem do dia, e o governo tem deixado clara essa necessidade.
Folha - O governo Lula pode estar
começando a provar um gostinho
do governo FHC, que também conviveu com várias crises externas?
Lisboa - Estamos nos livrando
da herança de uma economia fragilizada, na qual problemas externos são ampliados pelas nossas
dificuldades internas. Os ministros Palocci e Mantega têm deixado clara a prioridade de resgatar
um ajuste de longo prazo das contas públicas para desarmar as armadilhas que recebemos. Com
serenidade, trabalho e as medidas
de política econômica que têm sido e serão adotadas, nossa fragilidade será reduzida e a economia
poderá retomar uma trajetória de
crescimento equilibrado.
Folha - O que pode ser feito para
vencer essa crise?
Lisboa - A curto prazo, não há
muito a ser feito, só mesmo o
ajuste fiscal. O que temos de procurar fazer é nos preparar para
que uma próxima crise não nos
pegue como agora. Agora, no curto prazo, o que tem de ser feito é
mesmo o ajuste fiscal para não jogar todo o custo sobre a política
monetária.
Folha - Os programas sociais serão afetados no ajuste fiscal?
Lisboa - Não. Os cortes não atingem os programas sociais do governo.
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