São Paulo, sábado, 28 de janeiro de 2006

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Para analistas, Brasil poderá ser beneficiado

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira regra em fusões e aquisições de grande porte é um paradoxo -quem fala sobre o negócio não sabe as reais intenções dos compradores e, quem sabe, não fala. Os executivos da Mittal Steel cumpriram o script à risca e, ao anunciar ontem uma oferta hostil à rival européia Arcelor, causaram surpresa aos colegas brasileiros que atuam no setor de siderurgia. A maioria dos ouvidos pela Folha, porém, acredita que o valor proposto é muito bom e que a transação sairá do papel mais rápido do que se imagina.
Espelho disso é que ontem, na Bovespa, ações de siderúrgicas foram destaque de alta no pregão de ontem. Na liderança, ficou a ação ON da Arcelor BR, que disparou 14,23%. Logo atrás veio Siderúrgica Nacional ON (5,29%) e Gerdau Metalurgia PN (2,52%).
Muitas foram as especulações sobre quais serão os efeitos, no país, da união entre as duas maiores siderúrgicas do mundo. No Brasil, quatro companhias seriam transformadas em braços locais da Mittal Steel -CST (Companhia Siderúrgica Tubarão), Vega do Sul, Belgo Mineira e Acesita. Todas fazem parte do grupo Arcelor Brasil, cujo lucro bateu R$ 2,9 bilhões em 2005.
Executivos acreditam que a tendência é a de que investimentos por aqui sejam considerados uma boa alternativa pela Mittal -o que traria, a reboque, recursos de outras siderúrgicas estrangeiras.
"É um jogo de gigantes. Aqueles que não procurarem adquirir escala e eficiência vão ficar de fora", disse à agência Bloomberg o presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli.
Na avaliação do professor Germano Mendes de Paula, da Universidade Federal de Uberlândia, especialista na atividade siderúrgica, investidores estrangeiros que atuam no Brasil deverão aumentar suas participações. Os que não estão, provavelmente, irão querer entrar. É possível, segundo ele, que grandes siderúrgicas, como a Thyssen e a Posco, acelerem a decisão de investir por aqui.
Outras, que têm participação em empresas brasileiras, como a Nippon Steel, acionista da Usiminas, tenderiam a fincar pé no Brasil. "A Mittal Steel, está claro, optou por ser uma empresa com atuação mundial. Agora é preciso saber qual caminho as siderúrgicas da Ásia, cujo consumo de aço só faz aumentar nos últimos anos, seguirão", afirmou De Paula.
O primeiro fator a influenciar respingos da compra no mercado brasileiro, observou o professor, é o modelo final de negócio. A princípio, ele abarca 18,6 bilhões (R$ 50,24 bilhões). Desse total, apenas um quarto deve chegar na forma de dinheiro vivo. O restante do pagamento seria efetuado por meio de troca de ações.
Uma das questões mais importantes é em qual das companhias hoje controladas pela Arcelor a Mittal Steel investirá mais pesado. "É boa a chance de os recursos serem empregados na CST, para ampliar a empresa e aperfeiçoá-la tecnologicamente", afirmou De Paula. De forma que a competição ficará mais acirrada na produção de aços planos, contra Usiminas e Cosipa, diminuindo a chance de um embate maior com as produtoras de aços longos.


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