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Para analistas,
Brasil poderá
ser beneficiado
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A primeira regra em fusões e
aquisições de grande porte é um
paradoxo -quem fala sobre o
negócio não sabe as reais intenções dos compradores e, quem
sabe, não fala. Os executivos da
Mittal Steel cumpriram o script à
risca e, ao anunciar ontem uma
oferta hostil à rival européia Arcelor, causaram surpresa aos colegas brasileiros que atuam no setor
de siderurgia. A maioria dos ouvidos pela Folha, porém, acredita
que o valor proposto é muito bom
e que a transação sairá do papel
mais rápido do que se imagina.
Espelho disso é que ontem, na
Bovespa, ações de siderúrgicas foram destaque de alta no pregão de
ontem. Na liderança, ficou a ação
ON da Arcelor BR, que disparou
14,23%. Logo atrás veio Siderúrgica Nacional ON (5,29%) e Gerdau
Metalurgia PN (2,52%).
Muitas foram as especulações
sobre quais serão os efeitos, no
país, da união entre as duas maiores siderúrgicas do mundo. No
Brasil, quatro companhias seriam
transformadas em braços locais
da Mittal Steel -CST (Companhia Siderúrgica Tubarão), Vega
do Sul, Belgo Mineira e Acesita.
Todas fazem parte do grupo Arcelor Brasil, cujo lucro bateu R$
2,9 bilhões em 2005.
Executivos acreditam que a tendência é a de que investimentos
por aqui sejam considerados uma
boa alternativa pela Mittal -o
que traria, a reboque, recursos de
outras siderúrgicas estrangeiras.
"É um jogo de gigantes. Aqueles
que não procurarem adquirir escala e eficiência vão ficar de fora",
disse à agência Bloomberg o presidente da Companhia Vale do
Rio Doce, Roger Agnelli.
Na avaliação do professor Germano Mendes de Paula, da Universidade Federal de Uberlândia,
especialista na atividade siderúrgica, investidores estrangeiros
que atuam no Brasil deverão aumentar suas participações. Os que
não estão, provavelmente, irão
querer entrar. É possível, segundo
ele, que grandes siderúrgicas, como a Thyssen e a Posco, acelerem
a decisão de investir por aqui.
Outras, que têm participação
em empresas brasileiras, como a
Nippon Steel, acionista da Usiminas, tenderiam a fincar pé no Brasil. "A Mittal Steel, está claro, optou por ser uma empresa com
atuação mundial. Agora é preciso
saber qual caminho as siderúrgicas da Ásia, cujo consumo de aço
só faz aumentar nos últimos anos,
seguirão", afirmou De Paula.
O primeiro fator a influenciar
respingos da compra no mercado
brasileiro, observou o professor, é
o modelo final de negócio. A princípio, ele abarca 18,6 bilhões (R$
50,24 bilhões). Desse total, apenas
um quarto deve chegar na forma
de dinheiro vivo. O restante do
pagamento seria efetuado por
meio de troca de ações.
Uma das questões mais importantes é em qual das companhias
hoje controladas pela Arcelor a
Mittal Steel investirá mais pesado.
"É boa a chance de os recursos serem empregados na CST, para
ampliar a empresa e aperfeiçoá-la
tecnologicamente", afirmou De
Paula. De forma que a competição ficará mais acirrada na produção de aços planos, contra Usiminas e Cosipa, diminuindo a
chance de um embate maior com
as produtoras de aços longos.
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