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COMUNICAÇÃO
SBT diz que não endossa comunicado distribuído pela Band negando preferência por sistema do Japão
TV digital japonesa racha redes brasileiras
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
As redes de televisão não estão
tão unidas em torno da TV digital
como fizeram transparecer em
carta enviada ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva no último dia
18. Pelo contrário, estão divididas.
Na carta, as redes expõem suas
posições sobre o sistema a ser
adotado no Brasil e apontam o
padrão de modulação japonês (o
BST-COFDM) como "o único que
atende aos requisitos" que julgam
necessários para "garantir gratuitamente à população o serviço de
melhor qualidade".
O governo deve definir a configuração do Sistema Brasileiro de
TV Digital (SBTVD) em fevereiro,
mas pode adiar a decisão. Estão
em disputa, além do japonês, os
padrões americano e europeu.
Comunicado da Abra (Associação Brasileira de Radiodifusores,
entidade liderada pela Band e que
representa também o SBT e a Rede TV!) expôs fissuras entre as redes. Ontem, o SBT afirmou que
não endossa o documento.
O comunicado, divulgado na
quinta, respondia a uma carta de
Liliana Nakonechnyj, diretora de
telecomunicações da Globo, publicada no boletim on-line da revista especializada "Tela Viva".
Nakonechnyj rebatia declarações de Robert Graves, presidente
do ATSC (o sistema norte-americano), de que só a Globo defende
o sistema japonês. Afirmava ela
que todas as redes o defendem,
tanto que "recentemente enviaram carta ao presidente Lula solicitando a adoção do sistema de
transmissão ISDB-T".
Isso permitiu interpretar que as
redes querem o sistema japonês
completo, o ISDB-T, e não apenas
sua modulação. Um sistema de
TV digital inclui também um padrão de codificação (MPEG-2, no
caso do Japão) e middleware (algo
como o Windows da TV digital).
A Abra entendeu a declaração
como manipulação por parte da
Globo. "As emissoras da Abra negam preferência pelo sistema japonês de TV digital", rebateu.
"O fato de os radiodifusores que
compõem a Abra terem indicado
o sistema de modulação BST-COFDM como o mais adequado
não significa necessariamente
adesão ao sistema japonês. A
Abra não reconhece e desautoriza
qualquer afirmação em contrário,
ressaltando se tratar de mera especulação, fruto da má-fé de pessoas interessadas em defender interesses próprios", afirma a nota.
Ontem, a Globo afirmou que
Nakonechnyj se referia ao padrão
de modulação japonês, e não ao
sistema nipônico como um todo.
Mas o SBT jogou mais lenha na
fogueira. Guilherme Stoliar, diretor de rede, afirmou que "o sistema japonês, o ISDB-T, é o melhor
que se adapta ao que queremos".
Stoliar desautorizou a nota da
Abra: "A Abra só pode se manifestar se as três redes estiverem de
acordo. Nesse caso, desconheço
esse documento e não o endosso".
A discussão, apontam observadores, não seria só uma questão
de vocabulário (a confusão entre
sistema e padrão de modulação).
Globo e o SBT gostariam, sim, de
adotar todo o ISDB-T, avaliam.
Por trás disso também está um
estremecimento nas relações entre SBT e Band, por causa da retirada do canal pago BandNews da
TV Alphaville, operadora do Grupo Silvio Santos (leia mais na coluna "Outro Canal", na Ilustrada)
O racha fortalece os defensores
do adiamento da definição do
SBTVD. O sistema deverá ser híbrido, com modulação importada
e softwares nacionais. A posição
dominante é de que a TV digital
apenas incremente a atual (a analógica), com alta definição, recepção em celulares e interatividade.
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