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MERCADO TENSO
Empresário diz que mudança no câmbio foi correta, mas em momento inadequado e marcada pela improvisação
"Governo está atônito", afirma Brandão
da Reportagem Local
Antes de
anunciar que
deixaria a presidência do Bradesco, Lázaro
Brandão fez duras críticas à
condução da
política econômica.
A única coisa considerada acertada foi a decisão de liberar o câmbio.
"A mudança na política cambial
foi correta, mas em momento inadequado e com muita improvisação", afirmou Brandão.
Para ele, a mudança cambial
"trouxe desdobramentos de uma
medida sem preparo e deixou governo sem volta".
Ele considera que o mercado está
muito nervoso e excitado em boa
parte porque o governo não tem
mostrado claramente medidas para reativar a economia. "O governo
está atônito", disse ele.
"O governo está muito encolhido. Houve uma desorientação clara após a desvalorização. Ele tem
de deixar claras ações que mostrem que está atuando. O governo
não tem feito isso, está na defensiva", disse Brandão.
Em sua estimativa, a desvalorização do real já ultrapassou muito as
projeções. Para ele, uma desvalorização ideal ficaria entre 20% e
30%.
O banqueiro considera que a tarefa de equilibrar a taxa de câmbio
não é fácil. "Intervir no mercado
vendendo dólares traz o risco de
sangrar as reservas", afirmou.
Itamar Franco
Lázaro Brandão não considera o
governador mineiro, Itamar Franco, culpado pela instabilidade que
levou à desvalorização.
O governador de Minas decretou
moratória da dívida do Estado para com a União logo depois de tomar posse no início do mês.
"Ele apenas detonou o processo.
Na verdade, foi a fragilidade do
país que apareceu. O país não fez a
lição de casa a tempo", afirmou ele.
"Comprado" em dólares
Segundo os executivos do banco,
o Bradesco não teve prejuízos com
a desvalorização. Ao contrário.
Ageo Silva, vice-presidente responsável pela tesouraria do banco,
afirmou que logo nos primeiros
dias do ano o Bradesco aumentou
seu estoque de títulos atrelados à
variação cambial por perceber que
o cenário da economia estava se
deteriorando e que havia um risco
cambial maior.
Assim, quando veio a desvalorização, o banco teve um lucro com
esses títulos cambiais. No jargão
do mercado financeiro, o Bradesco estava "comprado" em dólares.
Isso no lado das operações de tesouraria, ou seja, com o próprio
caixa do banco.
Quanto às operações de crédito,
o banco estava "casado", segundo
Antonio Bornia, o vice-presidente
responsável pela área.
Estar "casado" significa que para todas as linhas de crédito em
dólares que o banco tomou, havia
uma proteção contra a variação
do câmbio.
Segundo Bornia, em 31 de dezembro de 98 o Bradesco tinha
um estoque de US$ 1,51 bilhão de
captações feitas em dólares, ou seja, essa era a sua dívida em dólares.
Desse total, US$ 1,17 bilhão foram repassados a clientes também com variação cambial. Os
outros US$ 340 milhões estavam
protegidos por títulos federais
com variação cambial.
O único risco agora é o da inadimplência dos clientes que tomaram empréstimo em dólares
do banco. "As empresas, assim
como nós, foram surpreendidas
pela desvalorização", disse Bornia.
Segundo ele, as operações de
crédito são muito pulverizadas, o
que reduz o risco. "Mas nós renegociaremos os contratos se for necessário. Estamos com a porta
aberta para renegociar caso a caso", disse Bornia.
Vencimentos
Da dívida total em dólares que o
banco tem -US$ 1,51 bilhão-,
US$ 538 milhões vencem este ano.
Segundo Bornia, é pequena possibilidade de rolagem das dívidas,
ou seja, de emissão de um novo título de dívida para levantar recursos e quitar a dívida que está vencendo.
"Ainda não testamos o mercado. Se não rolarmos a dívida, pagaremos rigorosamente em dia",
afirmou ele.
Bornia disse que, mesmo que os
investidores estrangeiros voltem
a ter apetite pelos títulos do banco, o Bradesco poderá optar por
quitar a dívida. "Se as condições
de rolagem não forem boas, como
prazo e taxa a pagar, podemos optar por quitar."
(VANESSA ADACHI)
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