São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2004

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ANO PERDIDO

Avaliação é que ajuste de 2003 terá como contrapartida uma expansão de longo prazo; Palocci credita retração à crise de 2002

Governo acredita em crescimento sustentado

SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A economia teve um desempenho "fraco" no ano passado, e o "custo social" dessa baixa atividade foi alto.
A avaliação é de economistas do próprio governo. Mas, segundo eles, a contrapartida desse sacrifício será o crescimento de longo prazo a partir deste ano.
Em nota, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) atribuiu o baixo crescimento à "crise econômica que o Brasil viveu em 2002".
Para reforçar a taxa de crescimento de 2004, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, disse que serão anunciadas na semana que vem medidas de estímulo ao setor da construção civil.
"É um ponto de preocupação porque o setor teve queda de 8,6% em 2003 [em relação a 2002]."
Palocci comentou que o resultado negativo de 2003 não surpreendeu o governo, que esperava algo próximo de zero. "Foi fraco, mas isso foi conseqüência da necessidade de ajuste", afirmou Appy. A política econômica do ano passado foi de taxa de juros e superávit primário (economia de receitas para o pagamento de juros) altos.
O chefe da Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento, José Carlos Miranda, lembrou que também foi um ano de queda da renda e de aumento do desemprego. "O custo social foi grande."
Mas ambos os economistas destacam a recuperação iniciada no terceiro trimestre do ano passado e que foi reforçada no quarto trimestre. "É um crescimento puxado por investimentos em insumos industriais. Ele é mais lento no início, mas será mais longo", explicou Miranda.
Para ele, o governo não quer repetir os crescimentos de curto prazo verificados na época do Plano Cruzado (1986) e no início do Plano Real (1994).

Ata do Copom
A última ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, que indicou uma posição de "cautela" com a inflação, não desanima os economistas.
Segundo Appy, a manutenção da política econômica atual "é a garantia do crescimento sustentável". "Essa é uma discussão conjuntural", disse Appy sobre a ata.
Miranda disse que a leitura de que o Banco Central vai parar de reduzir as taxas de juros é errada. "Os índices de inflação da última semana deste mês estão recuando", lembrou.
Para ele, os juros vão ser reduzidos, até porque eles têm um impacto "deletério" (prejudicial) sobre a relação entre a dívida pública e o PIB. Ou seja, a estabilidade da dívida depende dessa redução das taxas de juros.
Para Miranda, 2003 foi um ano de "assimetrias". Uma das mais marcantes é a assimetria entre a "fartura do campo" e a "queda de atividade no mundo urbano".
A atividade agrícola, muito ligada ao setor exportador, teve um bom desempenho. Mas o consumo das famílias caiu e setores importantes da indústria tiveram quedas significativas.
Miranda acredita que o dilema exportar ou crescer é muito menor hoje que há cinco anos. "É possível manter o mesmo superávit comercial [exportações maiores do que as importações] do ano passado com um crescimento de 3,5%", disse.
Segundo Miranda, a partir dos números já divulgados, a expectativa é um crescimento mínimo da economia entre 1,5% e 2% neste primeiro trimestre.


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